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Nos últimos tempos, quando, nos grandes meios de comunicação, se fala de Hans Küng, um famoso teólogo suíço da Universidade alemã de Tubinga, não é para apresentar a sua vida de professor, investigador e autor de muitos títulos notáveis, mas para destacar as suas tomadas de posição em relação ao Vaticano.
É uma grande injustiça classificá-lo, apenas, como um teólogo rebelde. É sobretudo um pensador crítico. A sua obra, traduzida em várias línguas, deveria merecer a atenção do grande público. É uma obra de diálogo com as outras Igrejas cristãs, com as outras religiões, com a Modernidade e Pós-Modernidade. Interessa-lhe a mobilização dos meios académicos e da opinião pública para a elaboração de uma ética mundial. Não quis encerrar o seu percurso com a publicação de dois volumes de Memórias. Já está traduzido
no Brasil uma das suas últimas obras, coroa de uma vida: o diálogo entre ciência e religião (1). A linguagem da Páscoa
Ele próprio explicita o espírito do seu projecto: não se trata de um modelo
de confrontação entre ciência e religião, seja ela de matriz fundamentalista-premoderna – que ignora tanto os resultados da ciência como os da exegese histórico-crítica – seja de índole racionalista-moderna que exclui as perguntas filosófico-teológicas fundamentais e declara, de antemão, irrelevante a religião; também não é um modelo de integração de
tendência harmonizadora, seja ele defendido por teólogos que acomodam os resultados científicos aos seus dogmas, ou proposto por cientistas que instrumentalizam a religião em benefício das suas teses; é, antes, um modelo de complementaridade baseado na interacção crítico-construtiva de ciência e religião. Neste, respeita-se a esfera própria de ambas e evita-se toda a passagem ilegítima de uma à outra, assim como se afasta toda a absolutização de qualquer delas. Por meio do questionamento e enriquecimento mútuos,
procura-se fazer justiça ao conjunto da realidade em todas as suas dimensões.
Nesta obra-síntese de um longo percurso, aborda o princípio de todas as coisas e a sua evolução.
No epílogo, interroga-se sobre o final de todas ascoisas. A sua fé, pondo de lado ornamentos lendários posteriores, centra-se no núcleo da mensagem do Novo Testamento sobre a ressurreição: a morte não conduziu Jesus de Nazaré ao nada, mas a Deus. “Esta é a minha esperança ilustrada, bem fundada: a morte é uma despedida que leva para dentro; é a entrada no Fundamento e Origem do mundo, nosso verdadeiro lar. É o regresso
a casa”.
2. Tenho todo o respeito pela teologia dialógica de Hans Küng. Embora também ele frequente os poetas e os músicos – escreveu uma obra sobre Mozart, Wagner e Bruckner – não me parece que valorize suficientemente a capacidade de conhecimento que existe na arte. A consistência artística, literária, poética, musical da expressão religiosa não é apreciada, pela maioria dos teólogos, como a grande linguagem da fé, a linguagem da Páscoa. A procura da verdade doutrinal desvia, muitas vezes, a atenção do poder cognitivo dos mitos, dos símbolos, dos ritos, das metáforas da linguagem religiosa.
Não se trata de desvalorizar outras linguagens na busca do conhecimento.
M.S. Lourenço escreveu-o de forma magistral: “O artista verdadeiro é aquele que alcançou o conhecimento verdadeiro, o qual consiste na percepção da realidade sensível e na intuição da realidade inexprimível”. Não contrapõe a procura da Verdade da Literatura à da Ciência, precisando, no entanto, que “esta procura da Verdade não é apresentada da mesma maneira, uma vez que a formulação estética, a criação da forma, é um objectivo da Literatura e não constitui um objectivo do trabalho científico”. Por outro lado, hoje, “estamos em condições de poder relativizar a dicotomia entre a intuição e o raciocínio e de restaurar a confiança no papel da intuição no processo do conhecimento e, deste modo, no valor cognitivo da experiência simbólica da obra de arte literária”.
É nesta perspectiva que coloca “a questão das fronteiras entre a Literatura
e a Religião, a qual também é um domínio de percepção simbólica”. Defende “a
ideia de que o culto religioso não existe incondicionalmente e que a expressão da experiência religiosa é condicionada pela formulação literária que a descreve, uma vez que esta é o veículo da asserção religiosa. O passo de São João segundo o qual o princípio é o Logos é assim interpretável como exprimindo a ideia segundo a qual o Logos, a fórmula, é a linguagem universal e, portanto também, a da Religião e do seu culto. Assim o problema
da verdade da Religião reconduz-se ao problema da verdade das fórmulas da literatura subjacente. Uma doutrina religiosa é apenas tão verdadeira quanto o for a fórmula literária que a transmite” (2).
Para o grande músico teólogo, Olivier Messiaen (1908-1992), “as investigações científicas, as provas matemáticas, as experiências biológicas acumuladas não nos salvaram da incerteza. (…) De facto, a única realidade é de uma outra ordem: situa-se no domínio da Fé. É pelo encontro com um Outro que nós podemos compreendê-la. Mas é preciso passar pela morte e Ressurreição, o que supõe o salto para fora do Tempo.
Crónica do Frei Bento Domingues, o.p. publicada no Público
(1) Hans Küng, O Princípio de Todas as Coisas: Ciências Naturais e Religião,
Petrópolis, Vozes, 2007
(2) M.S. Lourenço, Os degraus do Parnaso, Lisboa Assírio & Alvim, 19982, Cf.
pp. 71; 75-76
1.Tornou-se bastante habitual, nesta época litúrgica, receber, dos grandes meios de comunicação, descobertas sensacionais, tentando documentar as pretensas mentiras que
estariam na base do cristianismo.
Este ano ainda não dei por nada de semelhante. O bicentenário do nascimento de Darwin e as atitudes das igrejas perante a evolução e a propaganda anti-teísta bastam para entreter as conversas entre religião e ciência. Por outro lado, parece que já temos um messias com a solução para a crise mundial, produto essencialmente norte-americano bem exportado.
Nada disto impede, porém, que os investigadores sérios das origens do cristianismo e dos textos do Novo Testamento - a investigação já passou por diversas fases - continuem a procurar o Jesus histórico, o ambiente religioso e cultural em que viveu e a história da primeira expansão do movimento cristão, no mundo judaico e no mundo pagão. Multiplicaram-se, entretanto, as imagens acerca de Jesus de Nazaré, procurando cada um destacar aquela que julga ser a dominante: mestre espiritual, profeta escatológico, profeta carismático, reformador social, guerrilheiro, revolucionário político, taumaturgo e exorcista, mago, carismático itinerante, judeu marginal, etc.
Para tentar chegar a um consenso, o Jesus Seminar, fundado, em 1985, pelo falecido Robert Funk e John Dominic Crossan, patrocinado por Westar Institute de Sonoma (Califórnia), publicou, depois de vários estudo e debates, Os Cinco Evangelhos - incluem o de Tomé - a quatro cores que indicam o que Jesus certamente disse (vermelho), o que Jesus provavelmente disse (lilás), o que Jesus provavelmente não disse (cinzento), o que Jesus sem dúvida alguma não disse (preto) (1).
Não se deve concluir que se trata de um empreendimento insignificante e votado ao fracasso. Tudo o que for alcançado será sempre ganho - embora provisório - para a ciência e não atrapalha a fé cristã que não é só um fazer crer o mistério insondável de Cristo - mistério do mundo - mas, sobretudo, um "fazer-fazer", sem dúvida, o que se torna mais decisivo.
2. Albert Schweitzer (1875-1965), um alsaciano famoso, teólogo, filósofo, músico e um dos melhores intérpretes de Bach, convidado aos 24 anos para professor na Universidade de Estrasburgo, disse adeus às suas investigações sobre o Jesus histórico - um marco importante no começo do século XX (2) - e foi doutorar-se em medicina. Que terá acontecido para esta viragem, para o encontro de Cristo na história dos que sofrem?
Numa manhã de Pentecostes, A. Schweitzer foi acordado pelo toque dos sinos e, como escreveu: "Imóvel, escutei aqueles sons juntamente com a voz da minha felicidade íntima. Os meus sonhos mais radiosos tinham-se concretizado. A vida abria-se maravilhosa diante de mim. Mas, de repente, o meu pensamento voltou-se para uma multidão de homens, homens sem conta que nada possuíam. Vieram-me à mente as palavras de Jorge Nitschelm: "Se em minha casa houvesse a fartura que há na tua.", e as palavras do meu pai diante da estátua do negro: "a gente mais pobre e miserável do mundo.". Dentro de mim ressoavam insistentes as palavras do Evangelho: "Àquele que muito recebeu muito será pedido. Recebestes de graça, pois dai de graça. Pregai a palavra. Curai os enfermos.". Naquela manhã Albert Schweitzer, com calma e lucidez, tomou uma decisão: continuaria a dedicar-se à ciência por mais seis anos. Depois, deixaria tudo e iria para o país considerado, na altura, o mais miserável a fim de dedicar a vida aos seus irmãos mais esquecidos. Partiu para África (Gabão), como médico, fundou um hospital, onde tratava mais de 40 doentes por dia e, paralelamente ao serviço médico, pregava o Evangelho numa linguagem que despertava para o essencial e acessível a todos: agir em benefício do próximo (3). Este Prémio Nobel da Paz, mundialmente reconhecido com numerosas distinções honorárias, casado com Hélène e pai de 5 filhos, trabalhou até à morte, a 4 de Setembro 1965. Tinha 90 anos. Os seus restos mortais ficaram em Lambaréné, ao lado dos restos mortais da sua esposa, falecida em 1957 que, desde o começo do namoro, abraçou os sonhos de Albert.
3. Que haverá de comum entre o Mestre, morto como um criminoso às portas de Jerusalém - teria uns 35 anos - e este discípulo, pastor protestante, que morre, no cume da glória, aos 90 anos no Gabão? O essencial: ganhar a vida, gastando-a por aqueles que nada podem fazer por nós. A. Schweitzer, um grande intelectual e um artista consagrado, percebeu que o decisivo não é fazer uma carreira científica com a história de Jesus - embora isso possa ser culturalmente muito importante -, mas ajudar a fazer história de libertação a quem a história foi roubada antes de tempo. Só nesse horizonte é que é possível tornar santa a Semana Santa.
(1) Robert W. Funk, Roy W. Hoover and the Jesus Seminar, The Five Gospels, The Search for the Authentic Words of Jesus, New York, Macmillan, 1993.
(2) Albert Schweitzer, A Busca do Jesus histórico, São Paulo, Editora Cristã Novo Século, 2003 (orig.1906).
(3) Cf. Terésio Bosco, Alberto Schweitzer, Porto, Edições Salesianas, 1990.
Frei Bento Domingues, o.p.
(1º director da lic. em Ciência das Religiões)
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