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É fundamental não fazer do Parque Bensaúde a retrete dos cães.
Desgraçadamente, não seria caso único
1.Não se trata de uma metáfora paulina (Fl 3, 2) nem de uma moradia com tabuleta de alerta ameaçadora. O assunto é outro. Vivi em Lisboa ao lado de um belo parque, intermitentemente aberto e fechado ao público, desde 2003 - mais tempo fechado do que aberto - situado junto à Rua dos Soeiros, entre o Estádio do Benfica e a Estrada da Luz, com acesso pela Rua Francisco Baía. Segundo algumas referências históricas, teria pertencido à antiga Quinta de Santo António (século XVII) dos franciscanos. A família Bensaúde adquiriu a
quinta e, em 1980, vendeu ao Estado nove hectares. Em 1997, o Estado cedeu à Câmara Municipal de Lisboa, por um período de trinta anos, a área de jardim e mata, constituída por um conjunto de plataformas e escadarias que culminam no pavilhão (miradouro), por edifícios de apoio e por um conjunto de vegetação, salientando-se uma importante alameda de plátanos e o maior sobreiro identificado em Lisboa.
Dada a manifesta carência de um espaço desta natureza na área, a CML reabriu ao público, este ano, no dia 1 de Julho, o Parque Bensaúde, com a presença do seu presidente, António Costa, e do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes.
Foram efectuadas acções de limpeza e manutenção, criadas as estruturas mínimas de apoio e implementadas algumas medidas de segurança, para que os utentes possam usufruir, já este Verão, deste magnífico espaço. Somos informados que está em elaboração o Projecto de Recuperação e Requalificação de todo o parque, com uma oferta diversificada de actividades. À entrada, encontra-se também o regulamento para o seu uso desde as 9h00 às 20h00. Está proibida a entrada a cães sem trela. Conhecendo a situação lamentável de algumas ruas desta localidade, essa proibição é, no entanto, muito insuficiente. Várias dessas ruas já foram roubadas às pessoas. Foram transformadas em retretes de cães com dono e trela.
2. Não quero ter nada contra os cães. É, aliás, consensual que o cão pode tornar-se o melhor amigo de novos e velhos. Por alguma razão é o mais antigo animal domesticado. Mas há cães e cães, mais de 400 raças e cães sem raça nenhuma. Para os mais privilegiados, abundam escolas, clínicas, cabeleireiros especializados, hotéis, lojas variadas e cemitérios. O cão não está vocacionado para ser apenas um animal de luxo. É dotado de excelente olfacto e audição, é corredor veloz, bom caçador, come de tudo, tem boa capacidade de aprendizagem, é dócil e obediente. Pode ser treinado para realizar muitas tarefas: caçar, pastorear rebanhos, vigiar propriedades e proteger pessoas, farejar as coisas mais diversas, resgatar afogados ou soterrados, guiar cegos, puxar pequenos trenós. Pode ser uma excelente e afectuosa companhia, sobretudo para quem vive só. Nada mais fiel ao seu dono e não se encontra quem se lhe possa comparar em docilidade e prontidão para cumprir ordens sem resmungar. Vi, desde pequeno, famílias inteiras de luto pesado pela morte de um cão. O romance de Michel Houellebecq, La Possibilité d'une île, premiado em 2007, sobre os neo-humanos, começa com a pergunta: "Quem, dentre vós, merece a vida eterna"? No final, depois de todas as deambulações, descobre que só o seu cão a merecia e morreu. Não admira, por isso, que os cães tenham passado para a ficção, a literatura, o cinema, a banda desenhada e a mitologia. Argos, o cão de Odisseu, da Odisseia de Homero, foi o único a reconhecer o dono, quando esse voltou para casa, depois de ter ficado vinte anos fora, e morreu a seguir.
Seria complicado trazer, para aqui, o estudo do lugar do cão na história comparada das religiões. Não resisto, porém, a evocar um caso raro que encontrei na Colômbia. Andava um dominicano a restaurar um antigo convento, situado no cruzamento de caminhos abandonados - que teve muita importância na evangelização, no século XVII - e destinado, agora, a uma casa de espiritualidade. Como vivia só, resolveu começar o futuro com uma comunidade de animais: ovelhas, gatos, cães, peixes, etc. e, a cada um, deu o nome de um santo ou santa. Os cães estavam sempre ao lado do altar, as ovelhas e os gatos estavam à frente dos poucos fiéis que aí acudiam. De manhã, antes do pequeno-almoço, o dominicano tinha de dar os bons dias a todos. À noite, nenhum ia descansar sem se despedir do frade.
3. Dir-se-á para quê tanta conversa? E com razão. No primeiro ponto, já disse o essencial. A reabertura do Parque Bensaúde é uma bênção para a saúde desta zona. Defendo que, no regulamento, enquanto não houver um serviço de higiene para animais, deve constar a proibição da entrada de cães, com trela ou sem trela, com açaime ou sem ele, pois não é no focinho que está todo o perigo. É fundamental não fazer do Parque Bensaúde a retrete dos cães.
Desgraçadamente, não seria caso único. Muitos se queixam da situação de outros parques, jardins e ruas. Parece que há legislação suficiente para resolver o problema. Mas, como diz um vizinho, o problema não são os cães e as suas necessidades. O problema é haver gente com um comportamento abaixo de cão.
Frei Bento Domingues, O.P.
(1º Director da Lic. em Ciência das Religiões)
Artigo publicado no diário Público a 13 de Julho de 2008.
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