“Apesar de o Mestre da Nazaré ter provocado uma revolução no pensamento humano, inaugurando uma nova forma de viver, as funções mais importantes da inteligência que Ele expressou não têm sido incorporadas nas sociedades modernas. Vivemos na era da alta tecnologia, tudo é muito veloz e sofisticado.
Parece que tudo o que Ele ensinou e viveu é tão antigo que está fora de moda.
Porém, os seus pensamentos são actuais e as suas aspirações ainda são, como vemos, chocantes. Perdemos o contacto com as coisas simples, perdemos o prazer de investir em sabedoria. Um dos maiores riscos do uso da alta tecnologia, principalmente dos computadores, é restringir a capacidade de pensar. Recordemos que, aqueles que, frequentemente se socorrem das calculadoras, já não sabem fazer as operações matemáticas mais simples. Tenho escrito sobre a tecnofobia ou fobia de novas técnicas. O medo de usar novas técnicas pode reflectir um sentimento de incapacidade para novas aprendizagens. Todavia, apesar de apoiar o uso de novas técnicas e discorrer sobre a tecnofobia, a internetdependência e a tecnodependência podem restringir a criatividade e a arte de pensar.
Os EUA são a sociedade mais rica do globo. Além disso, são o estandarte da democracia. No entanto, a farmacodependência, a discriminação racial e a violência nas escolas são sinais de que a riqueza material, o acesso à alta tecnologia e à democracia política são insuficientes para expandir a qualidade de vida psíquica e social do homem. A tecnopedagogia, ou seja, a tecnologia educacional, não tem conseguido produzir homens que amem a tolerância, a solidariedade, que vençam a paranóia de ser o número um, que tenham prazer na cooperação social e se preocupem com o bem-estar dos elementos da sua sociedade. A democracia política produz a liberdade de expressão, mas ela não é por si mesma geradora da liberdade de pensamento. A liberdade de expressão sem a liberdade do pensamento provoca inúmeras distorções, uma das quais é a discriminação.
Por incrível que pareça, as pessoas não compreendem que dois seres humanos que possuem os mesmos mecanismos de construção de inteligência, não podem jamais ser discriminados pela fina camada de cor de pele, por diferenças culturais, nacionalidade, sexo e idade.
Jesus vivia numa época na qual a discriminação fazia parte da rotina social. Os que tinham a cidadania romana consideravam-se acima dos mortais. Do outro lado, a cúpula judaica, por carregar uma cultura milenar, considerava-se acima da plebe. Abaixo da plebe havia os publicanos ou colectores de impostos que eram uma raça odiada pelo colaboracionismo com Roma, os leprosos que eram banidos da sociedade e as prostitutas que eram apenas dignas de morte. Contudo, apareceu um homem que colocou de pernas para o ar aquela sociedade tão bem definida. Sem pedir licença e sem se preocupar com as consequências do seu comportamento, entrou naquela sociedade e revolucionou as relações humanas. Dialogava afavelmente com as prostitutas, jantava na casa de leprosos e era amigo de publicanos. E, para espanto dos fariseus, Jesus ainda teve a coragem de dizer que os publicanos e meretrizes os precederiam no reino de Deus.
Cristo escandalizou os detentores da moral da sua época. O regime político sob o qual vivia era totalitário. Tibério, imperador romano, era o senhor do mundo. Porém, apesar de viver num regime antidemocrático, sem nenhuma liberdade de expressão, Cristo não pediu licença para falar. Por onde andava, levava alegria, mas não poucas vezes também problemas, pois gostava de expressão o que pensava, era um pregador da liberdade.
Mas, por se preocupar mais com os outros do que consigo mesmo, a sua liberdade era produzida com responsabilidade.”
Augusto Cury (psiquiatra, psicoterapeuta, cientista teórico e pensador da filosofia) em : “Análise da Inteligência de Cristo: O Mestre da Sensibilidade”
Florbela Nunes
aluna do 3º ano de Ciência das Religiões