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1. Dentro e fora do Parlamento, foram abundantes as conversas sobre o “Estado da Nação” em manifestos, conferências de imprensa, jornais e televisões. Deram para dizer tudo e o seu contrário. Talvez não fosse mau analisar também o estado dessas conversas, num contexto de alguma depressão futebolística. Embora estejam na moda os “observatórios” de tudo e mais alguma coisa, não é prudente acreditar num mirante a partir do qual se pode
ver o certo e o errado, separar o trigo do joio com a utopia de um novo país, sem taras do passado, com um presente limpo e sem ameaças para o futuro.
Quanto à situação mais recente, tive a impressão de que, raramente, foi enquadrada no actual estado do Mundo e da Europa. E, no entanto, como veio a assinalar o Banco de Portugal, numa pequena economia aberta, fortemente dependente do exterior como a portuguesa, o enquadramento internacional é indispensável para compreender até que ponto ela é afectada por choques de escala global.
Quanto ao futuro, seria ridículo pensar que só o governo e o partido que o apoia se movem num horizonte eleitoral. Os partidos da oposição, associações, grupos de pressão e comentadores sentir-se-iam ofendidos se fossem considerados habitantes de outro planeta.
À pequena e à grande escala, vivemos sempre entre desejos, promessas, decepções e recomeços, não muito longe das palavras de Qohélet, filho de David, rei de Israel: «ilusão das ilusões: tudo é ilusão... nada há de novo debaixo do sol!» (Ecl 1, 2. 9).
É evidente que as constantes descobertas científicas e as inovações tecnológicas do nosso tempo parecem contradizê-las. No entanto, também se repete que as utopias dos séculos XIX e XX se eclipsaram e as inovações tecnológicas servem mais a banalização da vida e as ameaças bélicas do que a felicidade humana. Já é de forma envergonhada que se pergunta: afinal, o que ficou do Maio de 68?
De qualquer modo, não é por falta de progresso científico e tecnológico que a recente reunião do G8 não resolveu nenhum dos problemas actuais nem afastou os perigos de novos conflitos. Aliás, sem uma ética mundial para aeconomia e para a política, o diálogo de civilizações e religiões resvala, facilmente, para a conversa fiada.
2. Não pretendo com isto desvalorizar a importância do diálogo intercultural e inter-religioso e do debate no interior de cada uma das culturas e religiões. Apesar da sua lentidão e, por vezes, da sua aparente inutilidade, não podemos descartar as possibilidades de “milagre”. Os reis Juan Carlos de Espanha e Abdullah bin Aziz da Arábia Saudita – considerado o país mais fundamentalista sob o ponto de vista religioso e avesso a todo o diálogo – patrocinaram e acabam de realizar, em Madrid, a Conferência Internacional para o Diálogo (16 a 18 de Julho 2008). Este encontro, entre muçulmanos, cristãos e judeus, abriu-se a vários outros credos.
O rei Juan Carlos, na sua abertura, expressou o desejo de que esta Conferência sirva para chegar a «um mundo que acabe para sempre com a inaceitável barbárie terrorista, que lute contra a fome, a doença e a pobreza, que respeite os direitos do ser humano e que promova a defesa do meio ambiente». Pode parecer retórica de circunstância, mas o secretário da
Liga do Mundo Islâmico, Al Turki, não se esqueceu de avisar: «que esta Conferência não seja como as outras, estéreis, mas que se traduza em projectos operativos, materiais e que seja para prosseguir». Veremos.
3. A vontade de «separar o trigo do joio», de fazer limpezas étnicas, culturais e religiosas, de separar os maus dos bons, de criar mundos homogéneos, sem dissidentes, é muito antiga.
A expressão «separar o trigo do joio» vem da agricultura. O joio é uma planta nociva que se desenvolve com frequência nas searas, prejudicando o seu desenvolvimento. Daí a necessidade de separar o trigo do joio. A partir deste pressuposto de observação corrente, Jesus constrói uma parábola – proclamada na Missa deste Domingo – para que não sejam tiradas conclusões apressadas acerca do insucesso parcial da pregação do Reino de Deus e da mistura de bons e maus nas comunidades cristãs. A classificação de bons e
maus depende dos juízos intolerantes que uns fazem sobre os outros. O próprio Jesus foi acusado, precisamente, de conviver e de aceitar no seu convívio os classificados como pecadores, sinal de que andava feito com os inimigos da Lei de Deus, com o diabo (Mt 12, 22-24).
Ainda hoje, continua a discussão do que a Igreja católica pode ou não admitir, do que pode ou não admitir a Igreja ortodoxa, do que pode ou não admitir a Igreja anglicana, luterana ou calvinista, do que cada uma pode ou não admitir para acolher as outras na sua comunhão.
O sucesso da expressão «separar o trigo do joio» é a vontade diabólica de separar, de eliminar o outro. Não apressar a separação do trigo do joio não é dizer que vale tudo. É dar tempo ao tempo. A intolerância, em nome do melhor, provoca o pior.
Quando vemos as outras comunidades, os outros povos, as outras ideologias, as outras religiões como o mundo inimigo, estamos a preparar a guerra, a impedir a paz.
Frei Bento Domingues, O.P.
(1º Director da Lic. em Ciência das Religiões)
Artigo publicado no diário Público a 20 de Julho de 2008.
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