O domínio da fé, do acreditar, é algo que não é tangível no momento em que se pensa, se medita, se acredita. Mas a fé é em si mesma a origem de algo concreto, por isso tem em si o potencial de acontecer.
Por isso ela tem de ser prática, por isso ela tem de ser colocada em prática.
Senão for, como disse o apóstolo Tiago ao escrever aos crentes hebreus então dispersos por outras terras:
– “ A fé sem obras é morta”.
É como um político que diz acreditar que dias melhores virão, mas que não toma medidas concretas para que isso aconteça. Ou como alguém que diz amar Deus, mas rejeita e trata mal o seu próximo e é indelicado com quem não conhece.
Jesus deixou um exemplo de vida que costumo olhar porque é de facto irrepreensível e tanto pode ensinar. Penso ter sido também esse o seu objectivo, e no seio de tantas referências da actualidade e do passado, as suas biografias são e foram uma fonte inesgotável de sabedoria.
Martin Luther King por exemplo, foi uma dessas referências que tornou a História “melhor”. “I have a dream” motivou as suas acções. Ele não se limitou apenas a sonhar, a acreditar no seu sonho e a esperar que “um dia… “ se realizasse mas agiu e lutou para que a sua “fé” produzisse obras. Não deixou o sonho morrer.
Além disso, e igualmente importante, foi a forma lícita com que o fez. Sem recorrer à violência, suborno, nem maltratar ninguém - o seu sonho de “libertar uns, não aprisionou outros”.
O momento de ira manifestado por Jesus descrito nas suas biografias, ao encontrar os cambistas a cobrar desmesuradamente dinheiro por animais para sacrificar como oferta de adoração a Deus, reflecte a sua indignação contra a corrupção dos propósitos do seu Pai no uso do templo. A procura dos próprios interesses em primeiro lugar por parte dos cambistas, foi o motivo do seu acto. O templo servia para tudo, menos para ser um local onde acontecesse adoração verdadeira e a possibilidade de todos o poderem fazer. Jesus “retirou” energicamente - “derrubou”, diz a expressão traduzida da palavra grega nessa escritura: Kathasterpho, as mesas dos cambistas como um gesto que no fundo era o reflexo da sua convicção de que o conhecimento de Deus e o relacionamento consigo devem ser a prioridade de todo o Homem e ninguém o deve impedir de forma nenhuma, nem deturpar essa causa.
O seu testemunho mostrou-o, a sua vida motivava-o.
Não vou destacar o seu acto nem a sua motivação ainda que tenham muito para ensinar, mas realço o facto de que ele agiu como “fruto” da sua fé. Jesus era uma pessoa segundo as suas biografias, calma e equilibrada, o seu acto de forma nenhuma revela desequilíbrio, mas sim coerência entre aquilo que acreditava e aquilo que fazia.
Se todos vivermos assim ou procurarmos fazê-lo, desde quem está no poder com maior responsabilidade, até à pessoa de menos visibilidade e com menos influência mas igualmente responsável por possuir carácter - tenho por certo que aquilo que dizemos acreditar não será de todo improdutivo.
Mais cedo ou mais tarde, os resultados e mudanças que tantos aguardam por este mundo fora acontecerão. A fé transformar-se-á em algo visível, palpável e útil para a vida.
Florbela Nunes
Aluna do 3º ano da licenciatura de Ciência das Religiões