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Raramente se terão utilizado tanto como agora termos essencialmente religiosos. Repare-se. O que faz falta? Crédito. O que é preciso estimular? A confiança. Precisamente confiança vem do latim fides, que dá fé, fiar-se de, confiar em. O crente é aquele que tem fé, que confia, que se entrega confiadamente a Deus. E crédito vem de credere, donde procede crer, acreditar e credo. No domínio religioso, crer e acreditar significam entregar-se a Deus com confiança. A pergunta é: e Deus tem crédito, merece o nosso crédito? Uns acham que sim e outros que não. De tal modo que uns acreditam e outro não. Porque é preciso dar razões, justificações para crer. Como os bancos não concedem crédito, quando não há confiança.
Os crentes religiosos são frequentemente acusados de apenas se interessarem pelo Além feliz, abandonando este mundo do aquém ao seu fracasso e sofrimento. Mas isso não é verdade, concretamente quando se fala do cristianismo.
Quem lê os Evangelhos com olhos de ver, constatará que Jesus não começou por pregar esse Além feliz. Anunciou o Reino de Deus, que, traduzido em linguagem compreensível, é, pelo menos, o mínimo humano decente para todos, já aqui e agora. Porque ninguém pode acreditar na realização plena do Reino de Deus, em Deus e com Deus, se não houver sinais dele na existência presente, aqui e agora. Por isso, Jesus começou por interessar-se pelo bem-estar das pessoas, pela comida, pela sua saúde. Segundo o Evangelho de S. Mateus, o Juízo Final tem como critério de julgamento dar de comer e de beber aos que precisam, vestir os nus, tratar dos doentes. Um corpo faminto, sedento e doente, independentemente da religião, sexo, cor ou raça, é o lugar do encontro com o Infinito.
Foi através destes sinais em acção, incluindo o perdão e a fraternidade, que os discípulos fizeram a experiência de que Deus é amor e acreditaram em Jesus e no seu Reino, já iniciado e que esperaram havia de encontrar a sua consumação na plenitude dos tempos. O Além não pode ser mera compensação ideológica para a frustração do presente.
Jesus colocou-se na tradição profética do Deus que não tolera a exploração do pobre. Ai dos "que vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sandálias!". "Ai de vós os que juntais casas e mais casas e que acrescentais campos e mais campos até que não haja mais terreno e fiqueis os únicos proprietários em todo o país! As vossas múltiplas casas serão arrasadas e os palácios magníficos ficarão desabitados".
No Novo Testamento, na Primeira Carta a Timóteo, lê-se que "a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições". Depois de se meditar nas causas que levaram à presente crise económico-financeira, mais dificilmente se porá em causa esta advertência. Foram de facto a ganância, as fraudes e a irresponsabilidade sobretudo dos mais poderosos que trouxeram a crise, dramática para os pobres, que se vêem roubados da sua dignidade de seres humanos.
Num texto célebre de há quinhentos anos - tradução um pouco livre -, já Martinho Lutero se queixava desta desgraça: "Quando hoje olhamos para o mundo através de todas as camadas sociais, constatamos que não passa de um grande, de um enorme covil cheio de grandes ladrões... Aqui, seria necessário calar quanto aos pequenos ladrões, para atacar os grandes e violentos, que diariamente roubam não uma ou duas cidades, mas a Alemanha inteira... Assim vai o mundo: quem pode roubar pública e notoriamente vai em paz e livre e recebe aplausos. Em contraposição, os pequenos ladrões, se são apanhados, têm de carregar com a culpa, o castigo e a vergonha. Os grandes ladrões públicos, porém, devem saber que perante Deus são isso mesmo: os grandes ladrões."
Depois, nesta situação, se a Justiça não funcionar e for dura para os pequenos e branda ou nula para os grandes, o que pode esperar-se é o aumento crescente da impotência e da frustração, desenhando-se no horizonte focos de revolta de consequências imprevisíveis. Sobretudo se forem explosões irracionais de raiva sem para quê.
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia
Frei Bento Domingues o.p.
Há de se reconhecer a beleza do universo feminino
A beleza de sua mente, sua subjetividade, sua imaginação
Em sua forma de ser, elas olham diferente...
Sua voz, seu andar são deliciosas peculiaridades
Seu toque remete ao amor, à sensualidade
Há de se entregar à beleza feminina
Beleza do ser, beleza das formas
Formas curvas,
Em seios e pernas que abraçam,
Em lábios que beijam, que mordem
Há de se reconhecer na mulher
Força e coragem
Resistência contra as minhas violências
Contra nossas censuras à sua liberdade... à sua sexualidade
Elas têm asas... e sabem voar!
Há de se calar diante de seu milagre
De gerar a vida em seu ventre
Éden de onde vimos, nús e igênuos
Éden... Eva... Deus(a)
Há de se pensar uma teologia assim
Uma projeção da mente feminina,
Projeção de sua subjetividade, de sua imaginação
Com uma forma de ser e um olhar diferentes
Com voz e movimentos originais, peculiares
Que nos remeta mais ao amor e à sensualidade
Uma teologia com a beleza artística das curvas
Uma teologia com seios que instiguem desejo
Com pernas que abracem
Uma teologia que faça amor
Que nos possibilite gozar junto com ela
Que beije beijos mordidos, beijos de língua
Uma teologia que tenha força e coragem
Que resista contra as formas de violência
Contra ás censuras à liberdade e à sexualidade
Uma teologia com asas
E que voe a despeito de gaiolas institucionais
Uma teologia que não apenas copie ou importe
Mas que gere, que dê a luz
Teologia que faça jus ao artigo que define seu gênero
Que clame El Shadday:
A Deusa que amamenta
Uma Teologia de brincos na orelha
Teologia da doçura
Do tesão... da paixão
Teologia do amor
Uma teologia diferente
Jeyson Messias Rodrigues
aluno da pós-graduação em Ciência das Religiões da FATIN; com acesso ao mestrado da Univ. Lusófona
1.Um dos chefes de redacção do jornal católico francês, La Croix, Michel Kubler, no Editorial de 13 de Março (2009), ao comentar a carta de Bento XVI aos bispos, carta de um Papa profundamente magoado, pergunta se a “crise integrista” não será o sintoma de uma crise mais ampla, na Igreja e da Igreja. Ao levantar esta hipótese, não pretende tornar esse quadro ainda mais negro. Procura, apenas, saber onde estão as causas deste drama. Não resultarão elas, em grande parte, do crescente mal-estar de um sistema católico, cuja lógica e discurso são cada vez menos compreensíveis pela cultura ocidental? Não admira que os membros da Igreja, tributários desse sistema e dessa cultura, se encontrem cada vez mais divididos entre ambos. Deparamos, todos os dias, com testemunhos desse disfuncionamento e tudo se complica quando o sistema é usado com dois pesos e duas medidas.
Na eleição deste Papa, muitos católicos pensaram que Bento XVI não poderia ser a continuação do cardeal Ratzinger. Teria de compreender que as suas simpatias pessoais pelas correntes mais conservadoras e as suas alergias pelas teologias modernas não poderiam ser o critério de governo do animador do grande e plural Movimento que é a Igreja Católica. Agora, essa predisposição parece estar em crise, sobretudo no seu país: a Conferência Episcopal Alemã queixa-se de uma grande falta de colegialidade; o semanário Der Spiegel foi ao ponto de escrever que “um papa alemão ridiculariza a Igreja católica”; não faltaram teólogos a declarar que, “se o Papa quer fazer alguma coisa boa pela Igreja, que se demita”. Tal gesto não teria, aliás, nada de humilhante, pois, se os bispos entregam os seus cargos aos 75 anos, se os cardeais perdem os seus direitos aos 80, um Papa, cuja função é muito mais pesada, não deveria esperar por uma idade muito avançada para renunciar ao cargo. Devo observar, no entanto, que esta consideração tão sensata ter-nos-ia privado do velho mais jovem e criativo da Igreja no século XX: o Papa João XXIII.
2. As expressões de abertura, compreensão, generosidade e acolhimento de Bento XVI, em relação à sectária “Fraternidade de São Pio X”, não impedem de marcar os seus defeitos nem de destacar as qualidades que o comovem, sublinhando que não pode deixar ao abandono, por razões mesquinhas, 491 sacerdotes, 215 seminaristas, 6 seminários, 88 escolas, 2 institutos universitários, 117 irmãos, 164 irmãs e milhares de fiéis.
Não seria esta uma boa ocasião para iniciar passos de aproximação e abertura em relação a movimentos, comunidades de base, bispos, teólogos, padres e leigos, que as atitudes e medidas de Ratzinger, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, contribuíram para afastar das instituições da grande Igreja Católica? Não são da Igreja apenas os que olham para o passado, mas também os que olham para o presente, para os lados e para o futuro. O chamado sistema católico parece ter perdido o sentido da catolicidade, da inclusão das vozes mais críticas e criativas que vivem um diálogo activo com o que há de melhor no mundo moderno e na diversidade das culturas.
3. É neste contexto que Bento XVI deveria ser convidado a rever a triste carta Aos bispos da Igreja Católica a respeito da recepção da comunhão eucarística por fiéis divorciados novamente casados, que o cardeal Ratzinger assinou, em 1994.
Não se pode esquecer que o ser humano vive uma realidade física, psíquica e relacional numa história familiar muito complexa. Os sacramentos são para os seres humanos, não os seres humanos para os sacramentos. São celebrados, de forma ritual, para que, no quotidiano e nos momentos mais típicos da sua existência, possam viver a fé com esperança e responsabilidade.
A graça do matrimónio não substitui a natureza. Um fracasso matrimonial não é sempre o resultado de um pecado ou de uma infidelidade à graça nem incapacita, automaticamente, as pessoas divorciadas para um novo casamento. São conhecidas muitas experiências que testemunham que a nova relação resultou de um verdadeiro encontro com o amor humano e divino. As Igrejas do Oriente, com as quais a Igreja Católica Romana esteve em comunhão até ao século XI, souberam compreender essa situação humana e eclesial. Foi, aliás, por isso que, no Concílio de Trento, continuando a afirmar a indissolubilidade do matrimónio – e não se pode renunciar a esse horizonte – não a definiu como um dogma de fé, como alguns desejavam.
Não seria importante que, depois de uma ampla consulta, se reunisse um Concílio Ecuménico das Famílias – representantes das várias tendências – para perspectivar uma pastoral matrimonial que substitua o moralismo por uma ética e uma mística verdadeiramente cristãs? “De uma vez por todas, foi-te dado apenas um breve mandamento: ama e o que quiseres faz. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas alto, fala por amor; se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor. Dessa raiz só pode sair o bem”. Isto dizia Sto Agostinho, no Tempo Pascal do ano 407.
Não é, certamente, dessa raiz que nasce o farisaísmo de certas comunidades paroquiais que apontam o dedo à situação matrimonial de outros irmãos.
Frei Bento Domingues, o.p.
Ficou célebre A fábula das abelhas, de B. Mandeville, em 1714, uma obra inteligente e cínica.
Havia uma colmeia semelhante à sociedade humana, concretamente nos seus vícios. Cada abelha procurava o seu interesse. Não faltavam as preguiçosas, as gananciosas, as exploradoras. A fraude e a corrupção também abundavam. A própria justiça era corrupta. Evidentemente, a abelha-mestra não fugia à regra. E, paradoxalmente, a colmeia era próspera.
Um dia, porém, operou-se uma viragem, de tal modo que cada abelha, daí para diante, se deixou guiar apenas pela honradez e virtude. Então, eliminados os vícios e excessos, já não eram necessários os médicos, as farmácias e os hospitais. Terminadas as contendas, desapareceram os
polícias, os advogados, os juízes. Uma vez que todos se guiavam pelo princípio da moderação, acabou o luxo, a arte, o comércio e tudo aquilo que a eles está ligado. E o colapso foi geral.
L. González-Carvajal comenta, concluindo: “Fraude, luxo e orgulho devem viver, se quisermos fruir dos seus doces benefícios”. A conclusão já está no próprio título da obra: A fábula das abelhas ou os vícios privados fazem a prosperidade pública.
O paradoxo de que o bem comum resultaria da convergência dos egoísmos foi expresso também pelo conceito de “astúcia da razão”, de Hegel, e pela teoria da “mão invisível”, de Adam Smith. Os homens, egoístas, procurando o seu interesse individual, acabam, mesmo sem a sua vontade e até contra ela, por promover o progresso e o bem-estar geral; os vícios dos indivíduos contribuem para a felicidade pública e a prosperidade das nações e da Humanidade.
A razão moderna instituiu a ideia de progresso ilimitado como artigo de fé. Essa crença, que é a secularização da salvação escatológica cristã, resistia à própria prova do egoísmo e mal em geral.
Apesar de tudo o que de bom devemos à modernidade, não somos hoje tão optimistas. A razão moderna não trouxe a libertação e a salvação prometidas e colocou até nas mãos da Humanidade a possibilidade da sua autodestruição – pense-se no armamento nuclear e na questão ecológica.
Face à presente crise devastadora, percebemos que não basta corrigir o sistema. Afinal, a crise financeira é, como diz o famoso sociólogo belga François Houtart, fundador do Centro Tricontinental da Universidade Católica de Lovaina, manifestação de uma crise mais vasta: alimentar, energética, climática, humanitária, ecológica...
Para ele, a sociedade do futuro tem de construir-se à volta de quatro eixos. O primeiro obriga a uma nova relação de respeito e não de exploração com a natureza. “Na prática, significa declarar a água e as sementes património universal e não permitir a sua privatização”. O segundo eixo é privilegiar o valor de uso e não o valor de troca, o que significa que os produtos e os serviços têm de ser desenvolvidos em função das necessidades e não, em primeiro lugar, do lucro. Para
superar esta “situação absurda”: nunca houve tanta riqueza e tantos pobres. O terceiro eixo é a “democratização da sociedade”, não só no campo político, mas em todas as relações sociais: na economia, saúde, educação, desporto, religião, entre homens e mulheres. O quarto eixo é a multiculturalidade, no sentido da “possibilidade de que todos os saberes, filosofias e religiões contribuam para a construção social colectiva”.
Para uma crise global a resposta tem de ser global. Inesperadamente, desta vez, a proposta simples e revolucionária, que lembra o famoso Plano Marshall, foi lançada no L’Osservatore Romano, diário do Vaticano. Primeiro, no dia 30 de Janeiro, por Ettore Gotti Tedeschi, banqueiro e professor de economia na Universidade Católica de Milão, e, depois, em 19 de Fevereiro, pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. O projecto que vai ser posto à consideração da cimeira do G20 consiste num investimento gigantesco a favor dos países pobres, com o fim de estes se tornarem protagonistas de um boom económico para seu benefício e, com o tempo, para ulterior bem-estar e riqueza de todos.
Uma versão outra da fábula das abelhas? Escreveu Tedeschi: “Isto não é moral, é economia”.
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia
A palavra evanggelion significa boas novas, ou boa mensagem e no novo testamento é encontrada várias vezes como referência à salvação que Jesus, o messias aguardado por muitos judeus, samaritanos1], crentes nos livros do velho testamento, acreditavam que haveria de vir.
Por essa razão as biografias de Jesus se chamam
O domínio da fé, do acreditar, é algo que não é tangível no momento em que se pensa, se medita, se acredita. Mas a fé é em si mesma a origem de algo concreto, por isso tem em si o potencial de acontecer.
Por isso ela tem de ser prática, por isso ela tem de ser colocada em prática.
1.Este tema não é novo no tempo destas crónicas. Que me lembre, comecei logo, em 1993, com um texto sobre “Casar, descasar e recasar” e não foi a última vez. Por outro lado, em 1995, aparecia, na colecção “Nova Consciência” do Círculo de Leitores, “Os divorciados e a Igreja”. Na introdução que escrevi, fiz o ponto do debate que se tornara muito vivo acerca do acompanhamento pastoral dos divorciados recasados e que tinha envolvido conferências episcopais de vários países. A Congregação para a Doutrina da Fé dirigiu uma carta aos bispos da Igreja Católica a respeito da comunhão eucarística por divorciados novamente casados (1994): os fiéis não estão excluídos da comunhão eclesial e devem ser cuidadosamente acompanhados na sua caminhada cristã. Dada, porém, a situação matrimonial irregular, não podem receber a comunhão eucarística.
O cardeal Trujillo, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, embora tenha destacado, em 2008, que os casais em crise não devem sentir a Igreja como ausente, intolerante ou madrasta, não abriu um caminho novo: a Igreja continua a tentar formas de convencer e explicar por que motivo os recasados não podem receber a Eucaristia, mas nutre a esperança de que, no final, a Palavra do Senhor, que está acima do papa e dos bispos, será melhor compreendida. Por agora, só pode dizer-lhes: são católicos, podem ir à missa, participar de certas acções da Igreja, de iniciativas de caridade e oração. Bento XVI censurou, no mesmo ano, os bispos franceses por consentirem em iniciativas destinadas a abençoar as uniões de católicos divorciados. A vontade de Deus e as leis da vida que Ele nos deu não podem ser relativizadas. O Sínodo dos Bispos discutiu, mas não deixou nenhuma indicação precisa ao Papa. Este lembrou que o único recurso canónico disponível, para os que casaram com rito religioso – mas apenas por convenção cultural – e acabaram separando-se, é a declaração de nulidade do primeiro casamento enquanto “sacramento celebrado sem fé”.
Resumindo e concluindo: os católicos recasados pelo civil continuam a ser membros da Igreja, a ser convidados para a Ceia eucarística, mas ficam avisados de que não podem tocar nessa comida: está aqui, mas não é para vós. Podem e devem, no entanto, escutar a Palavra e rezar.
2. Diz-se que é
uma solução simplista e de consequências nefastas para a vida pastoral da Igreja Católica. Foi, aliás, o que pude verificar no primeiro dos Colóquios sobre a Fé do passado dia 5, na Igreja Matriz de Ponta Delgada, completamente cheia, com a seguinte interrogação: Os Divorciados / Recasados: Que Lugar na Igreja? Participavam na Mesa duas pessoas divorciadas recasadas, testemunhando a sua profunda fé católica, mas sem perceberem por que razão o casamento que fizeram pelo civil não pode ser abençoado e não puderam participar na comunhão eucarística nem mesmo quando os seus filhos fizeram a Primeira Comunhão.
O casamento é, por natureza, uma instituição complexa. Junta duas histórias de vida, genéticas e culturais, com o propósito de formarem uma família que tem de contar com o passado, mas também com a nova rede de relações de cada um, do casal e dos filhos, quando existem. Realizado entre católicos, na forma canónica actual, é celebrado como um sacramento, que acrescenta, às complexas dimensões de qualquer casamento, a inscrição na complexa história da Igreja.
Há anos, Bernard Häring, um famoso teólogo, perguntava: “Haverá saída?” E mostrou que sim. O Centro Dominicano de Bruxelas publicou um documento de trabalho muito importante sobre a mesma questão, vindo a fazer parte de um dossier da revista Lumière & Vie assinado por especialistas, mostrando que não pode ser um assunto encerrado nem sob o ponto de vista teológico nem pastoral (1). O P. Luís Correia Lima, S.J., com o título, Divorciados Recasados diante dos Sacramentos, apresentou com clareza as peças essenciais do debate (2).
3. Parece-me que a hierarquia da Igreja faz bem em não abrir mão do matrimónio indissolúvel, como horizonte. Ninguém de boa fé se casa para se divorciar. O divórcio até pode ser o único caminho para acabar uma união absurda, mas pode também ser fruto de uma irresponsabilidade de ambos ou de um só. O futuro de um casamento depende, em parte, de uma conquista diária.
Quando se invoca a resposta de Jesus, não separe o homem o que Deus uniu, esquece-se a pergunta manhosa de alguns fariseus: É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja? (Mt 19, 1-9). Homem, aqui, significa marido. O que Jesus não pode aceitar, de forma nenhuma, contrariando o próprio Moisés, é o seguinte: a mulher não pode estar sujeita aos caprichos do marido. Isto é tão verdade que os próprios discípulos disseram a Jesus: Se é assim a condição do homem em relação à mulher, não vale a pena casar-se. O que estava em causa na resposta de Jesus, naquele preciso contexto social e religioso, era a defesa da mulher perante a arbitrariedade dos maridos.
Tenho de voltar a este tema na próxima crónica.
Frei Bento Domingues o.p.
(1) LV, 206 (Março 1992)
(2) Cf. Revista Eclesiástica Brasileira, 239 (2000) 641-649
Se fosse vivo, D. Hélder Câmara, um dos profetas maiores do século XX, teria feito 100 anos no passado dia 7 de Fevereiro. Nasceu em 1909, em Fortaleza. Foi bispo auxiliar do Rio de Janeiro e arcebispo de Recife e Olinda. Morreu no dia 27 de Agosto de 1999.
Conhecido no Brasil e em todo o mundo pela sua militância a favor dos direitos humanos, foi perseguido por causa da denúncia destemida da tortura e da miséria, chegando a ser acusado de comunista. Costumava dizer: "Se dou comida a um pobre, chamam-me santo; mas, se pergunto porque é pobre, chamam-me comunista."
Esteve na base da fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da criação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), bem como da Teologia da Libertação. Percorreu o mundo com conferências que contagiavam multidões.
Queria uma Igreja pobre, ao serviço dos pobres. Ele próprio deu o exemplo: no Recife, viveu 21 anos numa casa pequena e modesta, aberta a todos.
Conheci-o pessoalmente em Roma, em Outubro de 1974, por ocasião do III Sínodo dos Bispos. Foi uma conversa longa, publicada num caderno (esgotado) com o título Evangelho e Libertação Humana, donde retiro algumas declarações.
A Igreja precisa de renovação constante. "Tudo o que for sobrecarga, laço, prisão, criados pelos homens, tudo o que for tabu, tudo isso pode e deve ser raspado, como quem raspa o fundo de um barco. Quando penso na Igreja, eu me lembro da barca, não apenas de Pedro, porque a barca é do Cristo. Precisamos de raspar periodicamente o limo que se vai juntando no fundo do barco e inclusive substituir de vez em quando alguma tábua que apodrece."
Essa renovação embate com enormes dificuldades. "Eu cheguei como arcebispo a Recife, uma cidade do Nordeste brasileiro, uma das áreas subdesenvolvidas do país. Mesmo assim, eu recebi como casa uma casa já velha, mas enorme, com o nome de palácio. E dentro dele havia duas salas de trono: uma, mais solene, para as grandes recepções, e outra para o diário. Para receber todas as pessoas era um trono!... Pois bem! Eu levei seis meses para poder livrar-me da primeira sala e ano e meio para livrar-me da segunda!... Então, que cada um olhe em volta de si e veja como ainda está preso, por exemplo, pela sociedade de consumo. Como nós somos escravos da sociedade de consumo! Como é difícil arrancar-nos das estruturas!"
Para a transformação do mundo, acreditava em minorias conscientes e críticas que, a partir da subversão e conversão interior, lutassem, mediante a não violência activa, por um mundo justo e fraterno. "Estas minorias já existem. Precisamos de unir estas minorias que desejam um mundo mais respirável, mais humano, uni-las dentro de uma mesma cidade, de uma região, de um país, de país a país, porque hoje, sobretudo com as multinacionais, com todo o complexo de poder económico, utilizando técnicas, meios de comunicação social, se infiltrando nos Governos, utilizando não raro militares, diante dessa força imensa, é impossível a um país sozinho construir uma sociedade mais humana."
Estávamos longe da queda do muro de Berlim. Mas, animado pela utopia da libertação, pensava que "um socialismo humano", cujo caminho "estamos tentando descobrir", era a via para a justiça. "Eu sei que há tentativas aqui e acolá, mas ainda se não chegou a um socialismo verdadeiramente humano que, longe de esmagar a pessoa, pelo contrário, de facto nos arranque das estruturas capitalistas, da engrenagem capitalista, mas não para meter-nos em novas engrenagens".
Foi um dos principais animadores do "Pacto das Catacumbas" - assinado por 40 Padres Conciliares, pouco antes do encerramento do Concílio Vaticano II, nas catacumbas de Roma. Nele, sublinha-se a pobreza evangélica da Igreja, sem títulos honoríficos nem ostentações mundanas. Como Povo de Deus, o seu governo assenta na colegialidade e co-responsabilidade. Insiste-se na abertura ao mundo, na transformação social e no acolhimento fraterno.
De certeza não teria excomungado, como fez há dias um sucessor, os responsáveis por aborto em menina de 9 anos, abusada pelo padrasto
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia
Apanhando ainda a boleia do autocarro do Prof. Anselmo Borges, gostaria de deixar aqui uma ou duas ideias complementares.
Luís Seabra Melancia
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