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Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009
Deus à solta

 

 
 
 
1.A selecção dos textos bíblicos, para cada Domingo, pode nem sempre ser a melhor. Não vou ao ponto de dizer, como certo pároco que, não tendo preparado a homilia, só teve uma saída: “o Evangelho de hoje não presta”.
Isto não significava, necessariamente, falta de respeito. Há textos e textos. A Igreja acolheu, no seu cânone, quatro versões da intervenção de Jesus. Estão todas marcadas pelo estilo, pela situação cultural e pela estratégia de cada um dos seus autores. Embora tenham fontes próprias e comuns, não pretendem fazer História no sentido que esta adquiriu nos tempos modernos. Procuram, vários anos depois da morte do Nazareno, continuar a fazer discípulos de Jesus e do seu caminho,que tinha baralhado todas as ideias feitas e prescrições religiosas. No entanto, qualquer uma das quatro narrativas canónicas – isto vale também para as apócrifas – sem a paixão por Jesus Cristo, que as percorre, perdem todo o sal.
A selecção deste Domingo é muito interessante. Recolhe um trecho do Livro dos Números, 11, 25-29, outro da Epístola de S. Tiago 5, 1-6 e uma passagem do Evangelho de S. Marcos 9, 38-48, o brilhante evangelista deste ano. Tanto o trecho do livro dos Números como o do Evangelho tocam num ponto muito sensível do comportamento religioso: não deixar Deus ser Deus, não o deixar à solta, prendê-lo numa rede de conceitos, de ritos, de normas morais, de tabus.
Não só isto. Há religiões, grupos e movimentos religiosos que pretendem gozar de revelações e alianças privilegiadas, exclusivas, com a divindade. Confessam que não é pelos seus méritos que gozam desses dons. Foi Deus, nos seus misteriosos desígnios, que revelou as mediações pelas quais pode ser encontrado e, fora delas, não há salvação. Diga-se, de passagem, que isto não se coaduna lá muito bem com outras convicções e talvez mais fundamentais: Deus quer a salvação de todos e realizá-la-á por caminhos só por ele conhecidos. Deus fica à solta.
2. No Antigo Testamento, o Livro dos Números reflecte bem esta problemática. Há sempre alguém que não gosta dessas liberdades em religião: as coisas devem ser feitas sempre segundo o ritual previamente determinado e, se o Espírito de Deus toma iniciativas não previstas, devem ser os dirigentes religiosos a dizer-lhe o que está certo e o que está errado. São eles que gozam da missão divina de orientar a Deus. Moisés foi intimado a meter na ordem dois profetas desgarrados e reagiu de modo genial aos inquisidores: “Estais com ciúmes? Quem me dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!”
No Novo Testamento, no Evangelho de S. Marcos, acontece algo de parecido. Depois da problemática apresentada, aqui, no Domingo passado, sobre o carreirismo dos discípulos de Jesus, temos, hoje, outro cenário não menos curioso. Já não se trata de uma disputa entre eles, mas do medo de verem alargado o mundo dos adeptos de Jesus sem escolha oficial, exercendo tarefas e missões que julgavam sua reserva: “Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e procuramos impedir-lho porque não nos segue. Jesus disse-lhes: Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e depois vá dizer mal de mim. Quem não é contra nós é por nós”. Em vez da alegria de encontrar aliados, os discípulos só viam concorrentes. Ao fim e ao cabo, o seguimento de Jesus era só para alguns. Esta vai ser a grande problemática dos começos do cristianismo.
Durante algum tempo, os discípulos não perceberam o alcance universal das atitudes de Jesus em relação a todos os que não seguiam as prescrições humanas em nome de Deus. Ficou cunhada, para sempre, uma sentença revolucionária acerca das instituições que, em nome da religião, se tornam prisões do ser humano: “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (Mc 2, 23-28). Segundo o Evangelho de Marcos, desde o começo, foi precisamente a tacanhez religiosa dos seus contemporâneos que os impediu de acreditar no Evangelho, na irrupção do Espírito de Deus na intervenção libertadora de Jesus. Se este não seguia os costumes religiosos estabelecidos, não podia ser um homem de Deus. Era um possesso de Belzebu, de Satanás, de um espírito imundo (Mc 3, 22-30)…
3. Para a Epístola de S. Tiago, a religião verdadeira não é uma questão de ritual. É cuidado com os pobres e conversão dos ricos. Quem a ler terá de vencer uma distância cultural e económica de dois mil anos. A diatribe, porém, mantém-se: “Acumulastes tesouros para os vossos últimos dias! Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança! Condenastes e destes a morte ao inocente e Deus não vai opor-se?”
No Novo Testamento, a insistência na libertação de rituais religiosos, enquanto prisões, destina-se à descoberta da religião verdadeira: abertura a um Deus livre, mas não indiferente à sorte dos pobres e dos explorados.
         
Frei Bento Domingues, o.p.
publicado por Re-ligare às 12:39
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Segunda-feira, 21 de Setembro de 2009
O poder de servir e o poder de dominar

 

 
1.Os católicos portugueses celebram, hoje, a Eucaristia em contexto de campanha eleitoral. Espero que ninguém ceda à tentação de a utilizar para apoiar ou atacar, directa ou indirectamente, qualquer dos partidos, seja qual for o motivo. Não porque as expressões religiosas do culto cristão sejam indiferentes ao que se passa na sociedade. A Igreja mantém, no Baptismo, o chamado rito do Ephphatha, inspirado no Evangelho de S. Marcos (7, 31-37). Conta-se que, certo dia, apresentaram a Jesus um surdo tartamudo. Ele curou-o, abrindo-lhe os ouvidos e desprendendo-lhe a língua. Não consta, no entanto, que Jesus tenha fundado qualquer instituição para tratamento dos ouvidos ou da fala. Não veio substituir os caminhos das ciências, das artes ou das políticas, tarefa da investigação e da criatividade humanas. Será sempre despropositado tentar extrair dos Evangelhos programas para a construção da vida social, cultural e política.
Nesse gesto simbólico, exprime-se, no entanto, algo de essencial: não se pode ser cristão e manter-se surdo e mudo perante o que acontece no coração da nossa actualidade. Não porque os cristãos disponham de receitas, prontas a servir, para salvar a natureza ou para alterar o curso da história humana. Como dizia Tomás de Aquino, “a graça não substitui a natureza”.
A Liturgia, enquanto acontecimento simbólico, é polivalente e ambígua nas suas múltiplas significações, segundo os diferentes participantes. Como respiração da vida, ninguém deve tentar controlar o modo como a celebração é interpretada por aqueles que nela participam de forma activa. Servir-se da Missa para inculcar uma ideologia não é só um abuso intolerável. É impedir que ela seja o grande apelo à conversão de todos pelos caminhos só de Deus conhecidos.
2. A narrativa deste Domingo, tirada também do Evangelho de S. Marcos (9, 33-37) é especialmente cruel para os dirigentes da Igreja e isto não diz respeito, apenas, à Igreja dos começos. Como realça a Bíblia de Jerusalém, desde o capítulo quarto até ao capítulo dez, não há meio de os discípulos compreenderem o desígnio e as intervenções de Jesus. É, pelo menos, o que o narrador repete oito vezes, observando que o desentendimento chegara a tal ponto que os discípulos já tinham medo de o interrogar. Como se lê na Missa de hoje, foi, então, o próprio Jesus, quando chegaram a Cafarnaúm e já estavam em casa, que teve a iniciativa de lhes perguntar: “Que discutíeis vós pelo caminho?” Não teve resposta, pois andavam a discutir acerca de qual deles era o mais importante. Aproveitou, então, para uma reunião muito frontal e rematou: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último, isto é, aquele que se coloca ao serviço de todos”.
Pelo que vem a seguir, a reunião não deu grande resultado. As discussões continuaram e a questão de fundo era esta: que temos nós a ganhar com este aventureiro, pronto a cair na boca do lobo ao ir para Jerusalém?
É verdade que Pedro já tinha tentado chamá-lo à razão, mas foi repreendido e envergonhado perante os outros: “Arreda-te de mim, Satanás, porque não pensas as coisas de Deus, mas dos homens”. Jesus aproveitou para radicalizar a sua posição. “Chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que pode o homem dar em troca da sua vida?”
Esta conversa não agradou. Quando se viram confrontados com a posição de Jesus acerca da incompatibilidade do apego à riqueza com a entrada no Reino de Deus, sentiram a urgência de colocar tudo em pratos limpos. Tiago e João, filhos de Zebedeu, que tinham abandonado a empresa do pai para seguir Jesus, foram ter com Ele e disseram-lhe: “Mestre, concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. Os outros, julgando-se preteridos, começaram a indignar-se. Para Jesus, esse carreirismo não pode ter lugar na sua Igreja: “Aqueles que vemos governar as nações dominam-nas e os seus grandes tiranizam-nas. Entre vós não deverá ser assim: ao contrário, aquele que, entre vós, quiser ser grande seja o vosso servidor e aquele que quiser ser o primeiro, entre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos” (Cf. Mc 10).
3. É consensual que Jesus não encarregou a Igreja de fazer um partido político: “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. As comunidades cristãs, na sua diversidade e no seu interno pluralismo político, para terem algo de original a dizer, terão de não reproduzir, no seu interior, o que criticam na política de dominação.
 A vida não acaba onde começa o Reino de Deus, como pensava Nietzsche. Pelo contrário, é intensificada ao transformar-se. Ganha quem perde no que faz pela alegria dos outros.

   

Frei Bento Domingues, o.p.

(1º Director de Ciência das Religiões)

            

Público, 20 de Setembro de 2009.

publicado por Re-ligare às 09:00
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Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009
Conversas interrompidas

 

1.Quando se chega à minha idade, a morte está sempre a interromper conversas ou a impedir outras que andavam adiadas. Almocei com Raul Solnado no dia anterior à sua entrada no hospital com a promessa de continuarmos os nossos encontros. Em Junho, durante um lanche em sua casa, foi a uma estante, retirou um livro de colaboração – não me lembro do título – e apontou-me um pequeno texto assinado por ele. Estava, ali, o essencial de tudo. Pedi-lhe para o fotocopiar e dar a conhecer. Disseram-me que foi colocado em cima do caixão e teria sido lido, por alguém da RTP, durante o percurso para o cemitério. Não posso deixar de o reproduzir na primeira crónica depois das férias:
“Numa das vezes que fui à Expo, em Lisboa, descobri, estranhamente, uma pequena sala completamente despojada, apenas com meia dúzia de bancos corridos. Nada mais tinha. Não existia ali qualquer sinal religioso e por essa razão pensei que aquele espaço se tratava de um templo grandioso.
“Quase como um espanto, senti uma sensação que nunca sentira antes e, de repente, uma vontade de rezar não sei a quem ou a quê. Sentei-me num daqueles bancos, fechei os olhos, apertei as mãos, entrelacei os dedos e comecei a sentir uma emoção rara, um silêncio absoluto. Tudo o que pensava só poderia ser trazido por um Deus que ali deveria viver e que me envolvia no meu corpo amolecido. O meu pensamento aquietou-se naquele pasmo deslumbrante, naquela serenidade, naquela paz.
“Quando os meus olhos se abriram, aquele Deus tinha desaparecido em qualquer canto que só Ele conhece, um canto que nunca ninguém conheceu e quando saí daquela porta, corri para a beira do rio para dar um grito de gratidão à minha alma, e sorri para o Universo.
”Aquela vírgula de tempo foi o mais belo minuto de silêncio que iluminou a minha vida e fez com que eu me reencontrasse. Resta-me a esperança de que, num tempo que seja breve, me volte a acontecer. Que esse meu Deus assim queira” (Raul Solnado, Um Vazio no Tempo, 2007).
2. Há muitos anos que não consigo separar-me da obra, Os Degraus do Parnaso, de M. S. Lourenço. É, para mim, uma fonte inesgotável. Na sua harmonia literária e filosófica – fruto de uma “fecundação cruzada” – cumpre, de forma admirável, a tarefa de nos levar, pela sua perfeição, até à fronteira do inexprimível e à incapacidade de nos rendermos à crescente “indústria da cultura” e às suas inundações de lixo.
Nesses textos não há, apenas, uma fecundação cruzada de criação literária e de presença filosófica actuante. A ligação entre religião e literatura é omnipresente: sustenta que "o artista verdadeiro é aquele que alcançou o conhecimento verdadeiro, o qual consiste na percepção da realidade sensível e na intuição da realidade inexprimível. A aura que rodeia o artista verdadeiro é um efeito do Sopro divino".
Depois de marcar a diferença entre o processo científico e o literário na procura da verdade e de concluir pelo valor cognitivo da experiência simbólica da obra de arte, enfrenta a questão das fronteiras entre a Literatura e a Religião: “Tenho defendido a ideia de que o culto religioso não existe incondicionalmente e que a expressão da experiência religiosa é condicionada pela formulação literária que a descreve, uma vez que esta é o veículo da asserção religiosa. O passo de São João segundo o qual o princípio é o Logos é assim interpretável como exprimindo a ideia segundo a qual o Logos, a fórmula, é a linguagem universal e, portanto também, a da Religião e do seu culto. Assimo problema da verdade da Religião reconduz-se ao problema da verdade das fórmulas da literatura subjacente. Uma doutrina religiosa é apenas tão verdadeira quanto o for a fórmula literária que a transmite".
A última vez que falei com M. Lourenço ao telefone, não lhe exprimi, apenas, a minha admiração pela sua “cultura da subtileza”, mas também o desejo de a ver contrariar, de forma activa, a mediocridade da nossa cultura católica. Era uma conversa adiada para quando me mandasse a obra completa, em processo de publicação na Assírio & Alvim. Agora, espero que o Sopro divino que o habitava não me abandone até ao novo encontro porque, como escreveu, a “ressurreição é uma ideia justa”.
3. Em 1960, foi eleito o primeiro Presidente católico dos EUA, John Kennedy. Tomou posse em 1961. Foi assassinado em 1963. Era o mais velho de nove irmãos. As grandes causas, as tragédias e os escândalos desta espantosa família católica encheram as bocas do mundo. Morreu, em Agosto, o mais novo, Edward Kennedy.
Alguns sectores da Igreja – dadas as suas posições controversas – procuraram impedir a celebração católica do seu funeral. O cardeal Sean O'Malley justificou-a, lendo uma carta de E. Kennedy ao Papa: “(…) Trabalhei para receber os imigrantes, combater a discriminação e ampliar o acesso aos cuidados médicos e à educação. Procurei sempre ser um católico fiel, Santidade, e embora as minhas debilidades me tenham feito falhar, nunca deixei de crer e respeitar os ensinamentos fundamentais da minha fé”.
Esta carta, à boca da morte, de um político livre no seio da Igreja, é uma conversa para continuar.

                    

Frei Bento Domingues, o.p.

(1º director da Lic. em Ciência das Religiões)

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Artigo do Público de 13 de Setembro de 2009

 

publicado por Re-ligare às 23:15
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Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009
Uma pergunta:

É comum: as diferentes religiões citam a sabedoria umas das outras. Mas tenho uma pergunta: porque será que as diferentes religiões conseguem citar-se umas às outras mas não conseguem sentar-se umas com as outras?

publicado por Re-ligare às 01:45
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Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009
O JESUS QUE POUCA GENTE QUER

 

A presente reflexão refere-se ao homem, quiçá, negro, pobre, sem aparência e que nada escreveu sobre si.
Refere-se ao homem camponês, da aldeola Nazaré, no interior da Galiléia, região rural de Jerusalém.
Este Jesus que pouca gente quer é carpinteiro, agricultor e ambulante, uma vez que segundo o costume, o filho herdava a profissão do pai. Este Jesus é do movimento do João Batista, pois optar por este seguimento, representa descontentamento com o tradicional judaísmo; discordância dos vários caminhos propostos pelos inúmeros grupos religiosos e anúncio profético do Reino de Deus entre os povos.
 
Crer-se que este Jesus escolhe pessoas consideradas mais insignificantes e pecadoras perante ás léis existentes. Aqui, Jesus é libertador, optando preferencialmente pelos pobres e indigentes do sistema romano e judaico.
 
O Jesus que pouca gente quer, acima de tudo, nasce em um ambiente hostil, sem as mínimas condições de higiene; nasce de uma jovem simples e sem o mínimo de noção da empreitada posta pelo anjo mensageiro. Acredita-se que este Jesus tem fome, sêde, sono, dores, cansaço, tentações, densos momentos de profunda tristeza; chora e dorme.
 
O homem chamado popularmente de nazireu, galileu, diga-se de pasagem, nomenclaturas pejorativas, filho do homem e por fim, de Jesus. É discriminado; prisioneiro; sem teto; abandonado; recebendo vários apelidos tais como: Filho do Diabo, alcoolatra, blasfemador, amigo de pecadores e publicanos; cristo; rei dos judeus; filho do homem; filho de Davi; mestre, messias e salvador. Este Jesus quebra as barreiras raciais, sociais, políticas, econômicas, culturais e religiosas de seu tempo.
 
O Jesus que pouca gente quer entra na casa e come com pecadores e publicanos; lava os pés dos seus discipulos e discipulas; toca em leprosos; dá a vida pelas pessoas; anda em cima de uma jumenta; desmascara os comerciantes do templo e conversa com samaritanos. Quanto a estes, compreende-se que representam os irmãos mulçumanos de hoje. O Jesus que pouca gente quer não condena, pelo contrário, acolhe e ama consideravelmente a considerada pior das pecadoras.
 
Este Jesus também tem famílias e irmãos. Tem suas crises interiores, levando-o ao isolamento e a pensar seriamente em cumprir ou não, a missão proposta pelo Pai. Acredita-se que Jesus não possui nenhum tipo de bens; não é aceito e, nem tampouco, reconhecido em sua pátria. O Jesus que pouca gente quer caminha, conversa, dança, senta e toma vinho com o povo em rítimo de festa.
 
O Jesus que pouca gente quer escandaliza os grupos religiosos de seu tempo. O Reino de Jesus é terreno, anunciado o aqui e agora entre vós. O Jesus que pouca gente quer possui uma coroa de espinhos e estar despido na cruz. O Jesus que pouca gente quer levanta a voz contra a opressão, se indignando com as injustiças romanas. Este Jesus é desfigurado, sem formosura alguma, revolucionário, político e crucificado pelos seus ideais.
 
O Jesus que pouca gente quer é espancado, humilhado, carrega sua própria cruz e é posto para fora da cidade. O Jesus que pouca gente quer chega a sentir-se abandonado pelo próprio Pai. Este Jesus preocupa-se com a vida e com a criação do Pai.
 
Em suma, o Jesus que pouca gente quer é um homem ético, solidário, fraterno, amável e, acima de tudo, humano. Este é o Jesus que pouca gente quer.
                           
 
 
Adriano Trajano

Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL

aluno da Pós-Graduação em Ciências das Religiões da FATIN, com acesso ao Mestrado em Ciência das Religiões da Un. Lusófona

publicado por Re-ligare às 19:25
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