Blog dos docentes, investigadores e alunos de Ciência das Religiões na Universidade Lusófona (Lisboa)
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Quinta-feira, 31 de Março de 2011
O ILM (A PROCURA DO CONHECIMENTO)

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu

(Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)

 

Bismilahir Rahmani Rahim

(Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

 

JUMA MUBARAK

 

Bismilahir Rahmani Rahim “Rabbis sherah li sadrí; uias ssir li amrí; uahlul uqdatan min lissani; iáfkahú kauli”. - Ó Senhor meu, dilata-me o peito; facilitame a tarefa; e desata o nó da minha língua; para que compreendam a minha fala.” 20: 25 a 28.

 

A palavra árabe “ilm”, é por norma traduzida por “conhecimento” - “knowledge”. Mas “ilm”, tem um significado muito amplo, pois abrange, nomeadamente, a informação acerca de algo divino ou terreno, mais acção do que a teoria, a procura do conhecimento e a educação. Por isso a civilização islâmica dá a palavra “ilm”, uma forma distinta. Nenhuma outra religião deu tanta importância ao “ilm”. Porque o Islão é o caminho para o conhecimento, as palavras ilm, caneta, escrever, livro e seus derivados, são referidos centenas de vezes no Cur’ane e nas tradições do Profeta.
“Nun. Pelo cálamo (caneta) e pelo que com ela escrevem”. Cur’ane 68:2. A caneta e o livro, são essenciais para a procura do conhecimento. A primeira revelação do Cur’ane, começa com a palavra “iqra” (leia - recite).


“...Poderão equiparar-se os sábios com os ignorantes?”..” refere o Cur’ane, 39:9. Os pais têm a obrigação de criarem condições para que os seus filhos obtenham conhecimentos escolares e religiosos. Alguns pais preocupam-se que os seus filhos só aprendam os conhecimentos mundanos. Outros só com o ilm religioso. As duas componentes são importantes para formar um jovem para que no futuro, possa vir a ter uma contribuição para o desenvolvimento do seu país. Felizmente, já vemos muitos jovens formados em diversas áreas universitárias e simultaneamente, graduados em diversos ramos do ilm religioso (Hafez, Muftis, Alimos, etc..). É uma satisfação para os pais, pois é a melhor herança que podem deixar para os filhos. “Quando um homem morre, as suas acções chegam ao fim, com excepção de três actos: a caridade contínua, o conhecimento que transmitiu, o qual as pessoas continuarão a beneficiar e um filho piedoso que rezará para ele”. * (1).


Mesmo depois de terminada a época da escolarização obrigatória, devemos dedicar um pouco do nosso tempo, para relembrarmos e aumentarmos os nossos conhecimentos religiosos e de tudo o que nos rodeia. A mente humana tem uma capacidade extraordinária para armazenar informações, para recordarmos mais tarde. Errar, é próprio do ser humano e a perfeição só a encontramos em Deus, o verdadeiro
Haquim (Sábio). Com o passar dos anos, a nossa memória acaba por falhar e esquecemos parte ou totalidade do que aprendemos. Por isso, devemos treinar a nossa mente, em especial relembrar os conhecimentos religiosos, para uma oração perfeita. A procura do conhecimento em geral, é uma obrigação das mulheres e dos homens. “Não é permita a inveja, excepto em 2 situações: A pessoa a quem Deus deu riqueza e ele a utiliza no bom caminho e a pessoa a quem Deus deu a sabedoria (por exemplo a religiosa) e que dá as suas decisões em conformidade
e transmite aos outros”. *(2). O muçulmano deve preocupar-se em ensinar o seu semelhante, mas também deverá ter humildade em aprender com os outros. “Os sábios são herdeiros do Profeta” *(3).


Se não encontrarmos condições nas nossas localidades, para aumentar os nossos conhecimentos académicos ou religiosos, devemos procurar o ilm noutras paragens. “Procurai a sabedoria, mesmo se para isso tiverdes de viajar até à china” *(4). Encontramos no Islão, o incentivo para o combate à ignorância e ao analfabetismo. Só assim é que os muçulmano poderão contribuir com o desenvolvimento dos países onde se encontram a viver, de maioria muçulmana ou não. Temos a obrigação de contribuir para o desenvolvimento do mundo, como forma de erradicarmos a ignorância e a pobreza. Para efectuar a Oração, o pilar importante do Islão, o muçulmano deverá conhecer todas as regras, sem as quais a oração será considerada inválida. Nada obterá, senão o cansaço e a insatisfação de Deus. Não há oração sem o ilm, o conhecimento religioso. “Entre os Seus servos, somente os sábios temem verdadeiramente a Deus.” Cur’ane 35:28.


Os muçulmanos viveram uma época de esplendor numa altura em que o resto da Europa e do mundo, viviam nas trevas. As pessoas de todo o mundo deslocavam-se a Bagdad, Cairo, Córdova, Damasco e outras cidades, à procura do ilm. “Quem viajar a procura do ilm, Deus facilitar-lhe-á o caminho para o paraíso e os anjos estenderão as suas asas em honra do viajante.” *(5). Na altura, os muçulmanos preocuparam-se no desenvolvimento do conhecimento religioso e científico, vivendo em paz com outras culturas e religiões. Após o pôr do sol, a escuridão invadia as ruas da Europa, com a excepção de Córdova, onde as casas e as vias públicas eram iluminadas, não só pelas luzes artificiais, mas também pelas luzes do conhecimento e da sabedoria.


Apesar de todas as capacidades demonstradas pelo ser humano, para aumentar os seus conhecimentos, chegará o tempo das trevas. As más acções prevalecerão em relação às virtuosas, o adultério será dominante e o homem semeará a corrupção na terra. As religiões fragmentar-se-ão. A confusão ficará instalada. O homem piedoso terá dificuldades em reconhecer quem falará a verdade. “Perto da Hora estabelecida, haverá dias, nos quais o conhecimento religioso será retirado e a ignorância irá espalhar-se. Haverá em abundância, o assassinato de pessoas.”
*(6). Será o aproximar da hora final, conforme está previsto no Cur’ane: : “Tudo o que existe na terra perecerá. E só subsistirá o Rosto do teu Senhor, o Majestoso, o Honorabilíssimo”. 55:26-27.


* Ditos do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam); (1) Relato de Abu Huraira em Muslim; (2) Relato de Ibn Massud em Bhukari; (3) e (4) Relatos de Abú Daúd; (5) Relatos de Muslim, Abú Daúd e At-Tirmizi; (6) Relato de Abu Mussa em Bhukari.


Um bom dia de Juma


Cumprimentos,


Abdul Rehman Mangá
31/03/2011

publicado por Re-ligare às 17:30
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O cuidado que devemos ter na transmissão de hadices

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu

(Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)

 

Bismilahir Rahmani Rahim

(Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

 

JUMA MUBARAK

 

Abdullah Ibn Massud (Radiyalahu an-hu), foi um eminente Sahaba (companheiro) do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam). Devido ao seus conhecimentos religiosos e ao seu carácter, foi-lhe atribuída a incumbência de dar fatwa, ainda no tempo do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam).


Era também humilde. Prestava assistência ao Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), transportando os seus chinelos, a sua almofada e a agua para abluções. Por isso era também conhecido por “homem dos chinelos”, “o homem da almofada” e “o homem da água”.


Permaneceu na companhia do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), acompanhando-o nas deslocações e visitando-o na sua casa. Mesmo assim, tinha muito cuidado em relatar os ditos do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam). Sempre que pretendia fazê-lo, tremia de medo.


Certa vez, estava relatando um hadice (dito do Profeta) e ao começar com as palavras
“O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse....” o seu corpo começou a arrepiar-se e
os seus olhos encheram-se de lágrimas, a testa ficou cheia de suor, as veias
incharam-se e disse: “In Sha Allah o Profeta disse isso, ou igual a isso, ou mais ou
menos isso”.


Ele e os restantes Sahabas (Radiyalahu an-huma), tinham muito cuidado ao transmitirem algum dito do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), pois lembravam-se constantemente das palavras de Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), quando referiu: “Aquele que atribuir algo a mim e que na realidade eu não tenha dito aquilo, ele que ocupe o seu lugar no inferno”.


Aisha (Radiyalahu an-ha) referiu que certa noite, o seu pai Abu Bakr (Radiyalahu anhu), não conseguia dormir, pois virava-se para um lado, ou virava-se para o outro. Na manhã seguinte pediu para trazer os hadices que tinha compilado e que os entregara a Aisha para guardar. Assim que a compilação lhe foi entregue, queimou-a por completo. Depois explicou os motivos: “Esta colecção continha muitas narrativas sobre o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), as quais eu tinha ouvido de outras pessoas. Depois da minha morte, se algum dos hadices não fosse verdadeiro, então eu responderia perante Deus.”


In Fazail-E-Amal – As virtudes da acções.


SUGESTÃO: A mente humana consegue armazenar uma grande quantidade de informação. Tudo o que aprendemos, decoramos e vimos, temos a possibilidade de gravar na nossa memória e relembrar mais tarde. Ainda pequenos, decoramos alguns versículos do Cur’ane e aprendemos a fazer as orações. Porque não somos perfeitos e conforme o tempo vai passando, alguma informação armazenada acaba por ficar incompleta, ou mesmo desaparecer. Para uma oração perfeita, é importante relembrarmos os referidos versículos, pois, sem nos apercebermos, podemos estar a
incorrer em graves erros ao recitá-los erradamente, e comprometer toda a oração. Devemos, pelo menos uma vez por semana, reunir a nossa família, para recordarmos em conjunto, o Surat Fátiha e no mínimo os dez últimos capítulos do Cur’ane, (a começar por “Alam Tará…”) e todos as restantes preces da oração. Por exemplo o duá de Qunut é uma das preces que fazemos na oração de witr, que pela sua complexidade, podemos esquecer ou omitir algumas palavras. Não tenham vergonha de reunir a família e fazerem a “revisão da matéria dada”. Aproveitem também nessas reuniões, para lerem hadices e falarem de outros assuntos, como por exemplo: os direitos dos pais, dos filhos, dos vizinhos, o funeral, a ablução, a importação da oração e muitos outros temas religiosos, que nunca se esgotam.


Façam o favor de ter um bom dia de Juma.


Cumprimentos,


Abdul Rehman Mangá
24/03/2011

publicado por Re-ligare às 17:26
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SURAT AL FATIHA – O CAPÍTULO DE ABERTURA – 2ª. PARTE

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu

(Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)

 

Bismilahir Rahmani Rahim

(Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

 

JUMA MUBARAK

 

1-Em nome de Deus, o Beneficente, o Misericordioso; 2- Louvado seja Deus, Senhor(Protector e Sustentador) dos mundos; 3- O Beneficente e o
Misericordioso; 4-Senhor do dia do julgamento; 5- A Ti somente adoramos e a Ti somente pedimos ajuda; 6– Mostra-nos o caminho recto; 7-O caminho daqueles a quem Tu concedeste a Tua Graça, daqueles que não incorrem na Tua cólera e que não se perdem. AAAMEEN!.


Para atingir a perfeição na oração, o crente deve procurar conhecer e aprofundar o significado das palavras contidas no Surat Fatiha. Vamos analisar individualmente os 7 versículos:


1 - Bismilahir Rahmani Rahim – Em nome de Deus, o Beneficente, o Misericordioso; A religião aconselha-nos que devemos começar as nossas tarefas, com as palavras “Bismilahir Rahmani Rahim”.É imperfeito, defeituoso e desprovido de qualquer bênção divina, iniciar qualquer acto sem mencionar o nome de Deus. Se o nome de Deus for pronunciado com sinceridade, o crente obterá sucessos no início e no final das suas tarefas. Nestas palavras, estão 3 nomes / atributos de Deus: Allah, Rahman e Rahim. Allah é o nome mais importante de Deus e todos os restantes são alinhados a seguir. Apesar do significado de Allah estar para além da compreensão humana, quando o muçulmano diz “Allahu Akbar”, está a referir que Deus é Grande ou Deus é o Maior e nada se iguala a Ele. Se todas as arvores do mundo servissem para produzir cálamos (canetas em forma de penas para escrever) e as aguas dos oceanos fossem utilizadas como tinta, não seriam suficientes para descrever as grandezas e os
atributos de Deus. A nossa mente é limitada e por isso não podemos compreender para além do que Deus nos transmitiu, conforme se pode verificar nas próprias palavras do Profeta (Salalahu Aleihi Waasalam). Disse ele ao referir-se ao dia da ressurreição: “Pedirei a autorização do meu Senhor e Ele irá conceder-ma. Depois Ele inspirar-me-á com palavras de louvor que agora desconheço e eu louva-Lo-ei com essas palavras e prostrar-me-ei diante d’Ele”.


Rahman e Rahim, cujas traduções são: “The Most Merciful, The Most Beneficent”, “O Beneficente, O Misericordioso”, “O Clemente , O Misericordioso”, são dois nomes derivados de Ar-Rahmah (a misericórdia), segundo este hadice de Tirmidi: “Abdur Rahman Bin Awf ouviu do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam): “Deus disse: “Eu Sou Ar-Rahman. Eu criei os laços familiares e denominei de Rahim que obtive da raiz do
Meu Nome Rahman. Quem ligar o laço familiar eu Me manterei ligado a ele e quem o cortar, Eu cortarei o (laço) com ele”. Ar-Rahman é exclusivamente para Deus e é um nome que engloba todo o tipo de misericórdia que Deus tem perante a Sua criação. Ar-Rahim é uma misericórdia específica para os crentes. Ibn Abbas (Radiyalahu anhu) disse que acerca de Rahman e Rahim que os dois nomes são suaves e um deles é mais suave do que o outro (querendo referir que Ar-Rahman tem um maior envolvimento). Allah e Rahman, são dois nomes exclusivos para Deus. Não se pode  dar o nome de Allah a nenhuma Sua criatura. Os restantes nomes podem ser dados, mas precedidos, por exemplo de Abdul (Abdul Rahman; Abdul Cadir) – Servo do Beneficente; Servo do Todo-Poderoso.


Refere o Cur’ane: “Invocai a Allah ou invocai ar-Rahman; o que quer que seja que invoqueis, a Ele pertencem os nomes mais sublimes.” – 17:110.
Deus tem vário nomes/atributos, entre eles: Ar–Rahman (O Beneficente): Ar-Rahim (O Misericordioso); Al-Malik (O Soberano); As-Salam (A Paz); Al-Gafur (O Perdoador); Alkarim (O Generoso); Al-Majid (O Glorioso); Al-Ahad (O Único); Al-Cádir (O Todo- Poderoso). De acordo com Abu Huraya (Radiyalahu an-hu), referido em Tirmidhi, o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: Allah (nosso Criador e Sustentador), tem 99 Nomes (atributos). Quem se lembrar deles ou recitá-los com fé, entrará no paraíso”. Os Nomes de Deus devem ser invocados com frequência, pois a Dhrkr – Recordação de Deus, conduz à espiritualidade e ao paraíso.

 

Foi referido por Abdulah Bin Massud (Radiyalahu an-hu), de que: “Bismilahir Rahmanir Rahim tem 19 letras e que os anjos do inferno são também 19. Quem disser estas 3 palavras com sinceridade, será salvaguardado dos referidos 19 anjos”. Todas as preces que se iniciarem com estas palavras, serão aceites e serão palavras preciosas para o dia do julgamento final.


Continua no próximo Juma, In Sha Allah (Se Deus quiser).


Façam o favor de terem um bom dia de Juma.


Cumprimentos


Abdul Rehman Mangá
03/02/2011

publicado por Re-ligare às 17:15
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SURAT AL FATIHA – O CAPÍTULO DE ABERTURA

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu

(Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)

 

Bismilahir Rahmani Rahim

(Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)

 

JUMA MUBARAK

 

1 - Bismilahir Rahmani Rahim – Em nome de Deus, o Beneficente, o Misericordioso; 2 – Al hamdu lilahi Rabbil ‘aalamin - Louvado seja Deus,
Senhor(Protector e Sustentador) dos mundos; 3 – Ar Rahmani Rahim - O Beneficente e o Misericordioso; 4 – Maaliki Yaumidin - Senhor do dia do
julgamento; 5 – Yaka na’budu wa yaka nasta’in - A Ti somente adoramos e a Ti somente pedimos ajuda; 6 – Ihdinas siraatal mustaquim - Mostra-nos o caminho recto; 7 – Siratal lazina an amta alaihim ghairil maghdubi alaihim wa lad daallin. AAAMEEN - O caminho daqueles a quem Tu concedeste a Tua Graça, daqueles que não incorrem na Tua cólera e que não se perdem. AAAMEEN!.


Este Surat é denominado de Fatiha, por ser o capítulo de abertura do Cur’ane. É também chamado de Umm Al-Kitab (A Mãe de todos os Livros), porque o Cur’ane e o Salah (oração) iniciam-se com Surat Fatiha e porque o mesmo contém o significado geral do Livro Sagrado. Outro nome pelo qual é conhecido é o de Umm Al-Cur’ane, porque o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse “É o Umm Al-Cur’ane, Al Fatiha, a abertura do Cur’ane e os 7 repetidos (versos)”. Os Árabes definem a importância de um certo assunto em relação aos outros, utilizando a palavra “Umm”. Eles referem por exemplo que Maka por “Umm Al-Qura” (Mão de todas as cidades), pela sua grandiosidade e líder de todas as cidades.


O Surat Fatiha também é conhecido por As-Salah (A Oração), porque começa com um louvor a Deus e nos ensina a fazer uma súplica. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), num hadice qudsi, referiu que Deus disse: “Dividi a Oração (Fatiha) em 2 partes, uma para mim e outra para o Meu servo. Quando ele diz “Louvado seja Allah, Senhor dos mundos”, Deus diz: “meu servo louvou-Me…..” – Muslim.


É uma oração e uma resposta do Senhor. É também chamado de Ash-Shifá (A Cura) e de Ar-Ruqyah (Remedio). Abdul Malik Ibn Umair (Radiyalahu an-hu), referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “No Surat Fatiha, existe uma cura para todas as doenças”.


Apesar de não ser o primeiro capítulo do Cur’ane revelado, o Surat Fatiha foi colocado no início do Cur’ane. É a essência do Livro, que nos ensina a fazer a oração perfeita. É recitada no início de cada rakat (ciclo), de cada uma das orações prescritas e facultativas. “Não existe oração sem o capítulo de abertura do Livro” – Bukhari e Muslim. Abu Huraira (Radyalahu an-hu) referiu que o Profeta Salalahu Aleihi Wassalam) disse, repetidamente por três vezes: “Quando se fizer qualquer salah (oração) e não for recitado o Umm Al Cur’ane (Surat Fatiha), então a oração é
incompleta”. – Muslim. Noutras passagens é referido que a oração é inválida sem a recitação do Surat Fatiha.

 

Ibn Abbas (Radiyalahu an-hu) referiu que uma vez o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) estava sentado com Jibrail (Aleihi Salam) - Anjo Gabriel – que a Paz de Deus esteja com ele, quando ele ouviu um ranger (próprio duma porta a abrir-se). Ele ergueu a cabeça e disse: “É como uma porta no céu hoje aberta, a qual nunca tinha sido aberta antes”. Depois quando um anjo desceu através dela, ele disse: Este é um anjo que desceu à terra e que nunca o tinha feito antes”. Ele cumprimentou e disse: “Alegrai-vos pelas duas luzes que te foram dados e que nunca tinham sido dados antes a qualquer Profeta: Fatiha al Kitab e a parte final do Surat Al-Baqara. Qualquer letra que recitares, obterás recompensas. Muslim 4:1760.


O Surat Fatiha contém 7 Ayat (versículos). Começam em nome de Deus e citam alguns atributos, mais sublimes do nosso Criador. “Os mais sublimes atributos pertencem a Deus, Invocai-O, pois…”. Cur’ane 7:180. É frequente e desejável que o muçulmano comece qualquer actividade, invocando o nome de Deus. Deve fazê-lo duma forma consciente e sincera. Qualquer assunto que não seja iniciado em nome de Allah, fica privado de bênçãos. O Surat Fatiha lembra-nos o dia da Ressurreição, no qual seremos todos levantados para prestarmos contas. Deus é Misericordioso, mas também é Justo. Todas as nossas acções terão a sua justa retribuição, para o nosso bem ou para o nosso mal. No entanto, a grandiosidade da misericórdia de Deus é imensa. Num hadice qudsi, narrado por Abu Huraira (Radiyalahu an-hu), Deus afirma: ”Na verdade, a minha misericórdia excede o meu castigo”. O Surat Fatiha lembra-nos constantemente de que as preces devem ser dirigidas somente ao Criador de todas as coisas. Nem o Santo, nem o Profeta, nem o fogo, nem o sol ou qualquer outro ser criado por Deus, é digno de nossa adoração. Pedimos a Deus para nos guiar para o bom caminho, o caminho da misericórdia, aquele caminho muitas vezes difícil de percorrer, mas o mais virtuoso.


Cumprimentos e votos de um bom dia de Juma,


Abdul Rehman Mangá
24/02/2011

publicado por Re-ligare às 17:04
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Quarta-feira, 30 de Março de 2011
Porque não «Deus de Judá»?

 

Javé foi, certamente, o «deus nacional» quer de Israel (Reino do Norte) quer de Judá (Reino do Sul). Curiosamente, porém, na Bíblia Hebraica – escrita no Sul (ou seja, em Yehud/Judá) – ocorre algo curiosíssimo: Javé-Deus é dito, frequentemente, «Deus de Israel» e nunca «Deus de Judá»! Como entender este fenómeno? E porque é que a exegese tradicional o ignorou?

Começando pela segunda pergunta, isso deve-se seguramente ao facto de que, até aos anos 1990, ninguém contestar a existência histórica do Reino Unido de Israel e Judá, sob David e Salomão, e que tinha precisamente o nome «Israel». Sendo assim, evidentemente, Javé sempre foi o «Deus de Israel». Contudo, hoje, esse cenário deixou de ser evidente[1]. Os testemunhos extrabíblicos ignoram a existência de um grande império davídico-salomónico, embora conheçam, perfeitamente, uma «casa de Omri» (= Israel, Reino do Norte) e uma «casa de David» (= Judá, Reino do Sul). A «casa de Omri» era um Estado poderoso no Levante, protagonista de um sistema de alianças com os povos vizinhos (sobretudo os Fenícios e os Arameus), uma colaboração que lhes permitiu, no séc. IX, resistir ao avanço da Assíria (a grande «Coligação de Damasco») e, no séc. VIII, criar uma rede comercial importante (o comércio com a Arábia). A «casa de David», ao invés, era um pequeno reino, pouco influente e, provavelmente, vassalo de Israel (no séc. IX) ou, pelo menos, dependente dele economicamente (no séc. VIII).

Isso explica, talvez, porque, com o desaparecimento do Reino do Norte em 722/720, Judá não menospreze ser «Israel», e o herdeiro também das suas tradições.

 

 

Quando Jacob se torna «patriarca» em Judá

Aqui há uns anos, no quadro de uma obra colectiva em que se homenageava Albert de Pury (um grande estudioso do ciclo de Jacob), Steven McKenzie realizou um levantamento do uso do nome «Jacob» nos Profetas (sobretudo nos chamados «Profetas Posteriores»)[2]. As suas conclusões são interessantes. Antes de 720, «Jacob» refere 1) um personagem relacionado com as origens do Reino do Norte (um «pai», um antepassado, um patriarca de Israel) e, por isso mesmo, 2) é também identificado com esse mesmo reino (ou seja , Jacob é «Israel») – assim acontece nos textos proféticos de Amós e Oseias (do Reino do Norte), e nos textos mais antigos de Isaías (aqueles que se referem à guerra siro-efraimita). Mas, após 720, «Jacob» ou 3) a «Casa de Jacob» tornam-se sinónimos de Judá e corresponderiam, nos profetas, à conhecida expressão deuteronomista «todo Israel»; além disso, 4) o nome refere ou alude ainda a um indivíduo, o que quer dizer que «Jacob» passou também a ser concebido como «antepassado», patriarca de Judá.

Assim sendo, podemos pensar que entre a queda da Samaria (em 720) e a queda de Jerusalém (em 587), algo se passou para que Judá assuma a «herança» de Israel. Nos últimos anos sobressaem duas explicações, num curioso debate entre dois influentes biblistas: uma de carácter mais histórico-literário (P. Davies) e outra, mais político-cultural (N. Na’aman).

 

 

A origem do «Israel bíblico»

Philip R. Davies, um dos autores mais influentes das duas últimas décadas, desenvolveu o que poderíamos chamar a «pista benjaminita»[3]. Tendo em conta a centralidade de Benjamin em alguns textos bíblicos, este autor defende a possibilidade da existência de uma «obra benjaminita», responsável pela emergência do «Israel bíblico» durante o período neobabilónio. Desta obra fariam parte: uma narrativa da conquista de Benjamin (Jos 6-9); várias histórias de «libertadores» do Reino do Norte (Jz 3-9), começando precisamente por um libertador benjaminita (Eúde); e a narrativa da acção do primeiro rei de «Israel», Saul, um rei benjaminita (1Samuel). A história «deuteronomista» do final do exílio seria elaborada como reacção a essa construção benjaminita, revalorizando por seu turno as tradições de Judá.

Davies, à semelhança de outros estudiosos (J. Blenkinsopp e E. Knauf), pensa que o santuário de Betel teve um grande impacto na transmissão das tradições do Norte (a gesta de Jacob, as tradições do êxodo, o livro dos «salvadores» de Israel, as memórias de Elias e Eliseu, etc.). Mas esse impacto está dependente da «emergência» de Benjamim, no início do período neobabilónio. Este território teria pertencido ao Reino do Norte e, durante o reinado de Manassés, foi incorporado a Judá (juntamente com Betel), para recompensar a fidelidade daquele monarca ao poder assírio. Após a queda de Jerusalém, e ao contrário de Judá, o território de Benjamin não foi minimamente afectado e o poder babilónio estabeleceu aí – em Mizpah – a capital da nova província de Yehud. É neste contexto, portanto, que surge a obra benjaminita referida antes: a criação de um «Israel» englobando Benjamin e Judá.

 

 

A herança religiosa de Israel

Nadav Na’aman defende uma outra perspectiva[4]. Ele não acredita que Betel tenha incorporado o reino de Judá antes de Josias (ou seja, antes do enfraquecimento e retirada da Assíria do Levante) e, quanto a Benjamin, defende a tradição bíblica segundo a qual Benjamin sempre pertenceu a Judá (cf. 2Rs 12), exceptuando algumas povoações de fronteira (como Jericó e Gilgal). Por isso, para explicar o fenómeno da «israelitização» de Judá, ele recorre a um evento político-cultural, muito próximo no tempo, que terá servido de modelo às elites judaicas: a destruição da Babilónia, em 689, por Senaquerib. O rei assírio fez deste acto um evento maior: levou para a sua recém-fundada capital, Nínive, os deuses da Babilónia e os seus textos fundamentais (que farão parte da grande biblioteca de Assurbanipal); promove em Nínive um grande festival anual em honra de Assur, deus nacional da Assíria (à semelhança do Akitu, celebrado em honra de Marduk); assume-se como o «herdeiro» cultural da Babilónia, fazendo de Nínive o «centro» do mundo; leva a cabo uma adaptação do mito babilónico Enuma Elish, na qual o deus Assur é agora o protagonista.

Segundo Na’aman, a emergência do «Israel bíblico» responde a um fenómeno semelhante, de carácter político-religioso. Israel, o Reino do Norte, foi tradicionalmente superior, em todos os domínios. Depois da sua queda, tornou-se uma província assíria e, evidentemente, Judá não poderia reclamar direito algum sobre esse território. Mas, com a retirada da Assíria do Levante, Judá anexou o santuário de Betel (que, no período neobabilónio, pertencia efectivamente à província de Yehud) e reclamou-se herdeiro do Reino do Norte, criando uma nova entidade étnico-religiosa chamada «Israel». Esta reivindicação seria consolidada com os escritos recebidos via Betel e, sobretudo, a adopção da grande festa religiosa israelita: a Páscoa (relacionada com a tradição do êxodo do Egipto, uma tradição que parece estar ausente nos profetas do sul, concretamente em Isaías e Miqueias). De facto, os textos bíblicos associam a celebração da festa da Páscoa a Josias (2Rs 23).

 

Em suma, a Bíblica Hebraica não usa o título «Deus de Judá» porque ela é já expressão de uma entidade étnico-religiosa chamada «Israel» – não o Israel unido de David e Salomão que, provavelmente, nunca existiu (e é uma construção literária), mas o «Israel» teológico do período do Segundo Templo (o «verdadeiro Israel»). E este Israel, como vimos, tem origem no final do séc. VII a.C., pela mão dos escribas de Josias (N. Na’aman), ou início do séc. VI, na elaboração historiográfica dos literati de Mizpah (P. Davies).



[1] Vejam-se os resultados da arqueologia em I. Finkelstein-N. A. Silberman, The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Sacred Texts, Nova Iorque-Londres-Totonto-Sidney-Singapura, 2001 ; Id., David and Solomon: In Search of the Bible’s Sacred Kings and the Roots of the Western Tradition, Nova Iorque-Londres-Totonto-Sidney-Singapura, 2006 ; I. Finkelstein-A. Mazar, The Quest for the Historical Israel, ed. por B. B. Schmidt,Atlanta, 2007.

[2] S. McKenzie, «Jacob in the Prophets», in J.-D. Macchi-Th. Römer (ed.), Jacob. Commentaire à plusiers voix de Gn 25-36. Mélanges oferts à Albert de Pury, Genebra, 2001, pp. 339-357.

[3] Cf. P. R. Davies, In Search of “Ancient Israel”, Londres-Nova Iorque, 1992 ; Id., The Origens of the Biblical Israel, Londres-Nova Iorque, 2009; Id. [2005], «The Origen of Biblical Israel», in http://www.arts.ualberta.ca/JHS/Articles/article_47.pdf.

[4] Cf. N. Na’aman, «Saul, Benjamin and the Emergence of “Biblical Israel”», in ZAW, 121 (2009), pp. 211-224 (parte 1) e pp. 345-349 (parte 2) ; Id., «The Israelite-Judahite Struggle for the Patrimony of Ancient Israel», in Biblica, 91 (2010), pp. 1-23 [cf. http://www.bsw.org/Biblica/Vol-91-2010/]. 

                

Porfírio Pinto

Investigador em Ciência das Religiões

publicado por Re-ligare às 12:24
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Sexta-feira, 4 de Março de 2011
Havia uma estátua de Javé no templo de Jerusalém?

 

Uma das maiores pressuposições da exegese bíblica contemporânea consiste no chamado «aniconismo» javista, expresso no mandamento: «Não farás para ti nenhuma imagem esculpida…» (Dt 5,8), que se julgava antiquíssimo, remontando aos tempos de Moisés. Assim, acreditava-se que o aniconismo existira desde o início, de modo que o culto de Javé não contemplaria imagem ou representação alguma. E a arqueologia parecia confirmar esta suposição: efectivamente, nunca se encontrou nenhuma imagem ou representação iconográfica do Deus de Judá e de Israel[1].

Ultimamente, porém, alguns estudiosos têm posto em causa esta suposta «evidência», baseados sobretudo numa nova releitura de alguns textos bíblicos, particularmente dos textos deuteronomistas. Mas vamos por partes.

 

O aniconismo em Israel

Tryggve N. D. Mettinger foi quem mais aprofundou a questão do aniconismo em Israel e no contexto mais vasto do Médio Oriente antigo[2]. Nos seus escritos, este autor estabelece duas distinções. Em primeiro lugar, postula uma diferença entre um aniconismo de facto, pré-exílico e que Israel partilha com o mundo semita ocidental, e um aniconismo programático, a partir do exílio (expresso no segundo mandamento) e mais específico a Israel. O primeiro seria tolerante e, em muitos casos, teria coexistido com outras expressões icónicas (por exemplo, a representação de deusas); o segundo, absolutamente combativo, iconofóbico e iconoclasta. Em segundo lugar, Mettinger distingue ainda entre um aniconismo materializado (expresso, por exemplo, nas «estelas» cúlticas) e um aniconismo vazio (representado pelos «querubins» e, eventualmente, pelos «bezerros» de Betel). O primeiro constitui uma representação da divindade, mas sem tomar forma antropomórfica ou teriomórfica. O segundo pressuporia uma presença invisível da divindade: no caso de Jerusalém, os querubins constituíam o suporte da presença invisível de Javé-Sabaoth; e o mesmo aconteceria, segundo alguns exegetas, em Betel, onde os bezerros serviam de suporte à presença invisível de Javé (concebido como um deus da tempestade, à maneira de Baal em Ugarite, que também é representado sobre um bezerro).

Em relação ao aniconismo materializado no culto de «estelas», Mettinger não tem dificuldade em enumerar variadíssimos exemplos, de Mari à Arábia pré-islâmica, passando por Biblos, Tirzah, Dan, Láquis, Arad ou Petra. No que toca ao aniconismo vazio, o próprio reconhece maior dificuldade de argumentação (fundada sobretudo na iconografia fenícia), e a sua interpretação fundamenta-se numa construção teológica desenvolvida desde 1982, mas que foi criticada ainda recentemente[3]. Segundo Mettinger, o Primeiro Templo tinha desenvolvido uma teologia específica a Javé-Sabaoth (isto é, o Senhor dos «Exércitos [celestes]), segundo a qual Javé habitava o seu templo-palácio de Jerusalém, «entronizado» sobre os querubins e reinando sobre Sião, garantindo a sua segurança e inviolabilidade. A catástrofe do exílio foi um rude golpe para esta teologia, dando origem a duas outras, pós-exílicas: nos meios sacerdotais (Ezequiel e P), a teologia de Sabaoth foi substituída pela teologia da Kabod (a «Glória» divina); e, nos meios deuteronomistas, pela teologia do Shem (o «Nome» divino, pois, Deus, esse habita agora nos céus). O aniconismo programático destas duas teologias (em Dt 5 e Ex 20) seria, deste modo, a continuação do aniconismo de facto da teologia do Sabaoth, do Deus invisível entronizado sobre querubins.

 

A imagem (cultual) de Javé

Como dissemos, recentemente alguns autores puseram em causa esta «tradição» anicónica. Segundo eles, durante a monarquia, houve imagens da divindade nos principais templos/santuários javistas (Samaria, Betel e Jerusalém) e o segundo mandamento, no contexto do exílio, é uma reacção ao desaparecimento dessas imagens. Se é verdade que não existem «evidências» do que acabamos de dizer, há porém alguns indícios que convém ter em conta[4].

H. Niehr refere alguns textos bíblicos antigos e os salmos para justificar a existência de uma imagem cultual de Javé no templo de Jerusalém. Esses textos falam do templo como a «casa» de Javé (cf. Ex 15,17; Sl 26,8), significando que Javé habita realmente no tempo, de modo visível (icónico) ou não. Ora, a Bíblia fala frequentemente em ver «a face de Deus» (cf. Sl 24,6; 42,3) ou em apresentar-se «diante do Senhor» (cf. Dt 16,16), de oferecer-lhe oblações e libações (cf. Nm 6,17), ou ainda mencionando as suas «vestes» (cf. Is 6,1; Sl 60,10), o que pode indiciar que se está cerca de uma imagem/representação de Javé. Além disso, parecem existir alusões a procissões com a imagem divina (cf. Sl 24,7.9) ou um festival anual em honra do Deus nacional, que saía do seu templo em peregrinação (cf. Sl 68). Quanto à linguagem da «entronização» (de Javé), frequente nos salmos «reais», pode simplesmente aludir ao facto de o «rei» representar/ser imagem de Javé, aquele que se senta sobre os querubins (cf. 1 Cr 29,20.23). Neste sentido, as teologias do Shem ou da Kabod viriam sobretudo responder a um vazio: a «imagem» cultual da divindade ou se perdeu durante a destruição de Jerusalém (cf. Jr 8,19; 12,7-8; Ez 8,12), ou deixou de ser tolerada.

Por seu turno, M. Köckert encontra um argumento mais decisivo no estudo de Dt 4, um texto considerado pelos exegetas como tardio (da época persa). O segundo mandamento, originalmente, não compreendia a proibição das imagens, mas apenas a proibição do culto aos deuses estrangeiros (cf. Dt 5,9-10, que seguiria normalmente 5,7). A introdução das tradições (e da teofania) do Sinai na Tora tornou caducas as representações/imagens de Javé. O exílio, precisamente, é explicado à luz da «idolatria» dos antepassados. Por isso, as imagens devem ser banidas (Dt 4,9-24) e, portanto, são proibidas (Dt 5,8)[5]. Para esta corrente teológica, Deus «mora» agora na Tora. Alguns anos antes, quando ainda não existia o Segundo Templo, o autor de P afirmava que o conjunto do Universo constituía o templo de Javé-Eloim, e que a sua imagem/representação se encontrava, não em estátuas, mas no próprio ser humano – «criado homem e mulher» (Gn 1,26), constituindo esta perspectiva uma evolução da teologia exílica da Kabod (que vemos ainda expressa em Ezequiel).

Em suma: se é verdade que existe uma tradição anicónica entre os Semitas ocidentais, expressa no culto das estelas, este aniconismo pode ter coexistido com expressões icónicas, sobretudo nos grandes santuários (Samaria, Betel e Jerusalém), mais expostos a influências estrangeiras (o culto de imagens). Por outro lado, o aniconismo «vazio», defendido por Mettinger, é cada vez mais difícil de sustentar: os chamados «tronos de Astarté» na Fenícia, o suporte/altar de Tanach, etc., estavam realmente vazios ou neles era colocada uma imagem cúltica da divindade?

                   

Porfírio Pinto

Investigador

 



[1] Recentemente foi exposta uma imagem representando, supostamente, Javé e Achera, e que pode ser apreciada no livro de O. Keel, L’Eternel féminin. Une face cachée du Dieu biblique, Labor et Fides, 2007, p. 48 (trata-se do catálogo de uma exposição realizada no Musée de l’Orient, em Friburg, Suíça).

[2] T. N. D. Mettinger, No graven image? Israelite aniconism in its ancient Near Eastern context, Almqvist & Wiksell Int., 1995; Id., «Israelite aniconism: developments and origins», in K. van der Toorn (ed.), The Image and the Book: Iconic Cults, Aniconism, and the Rise of Book Religion in Israel and the Ancient Near East, Peeters, 1997, pp. 173-204; Id., «A Conversation with my Critics: Cult Image or Aniconism in the First Temple?», in Y. Amit et al., Essays on Ancient Israel in its Near Eastern Context, Eisenbrauns, 2006, pp. 273-296.

[3] Cf. A. Wood, Of Wings and Whells: A Synthetic Study of the Biblical Cherubim, Walter de Gruyter, 2008. Para o nosso autor, cf. T. N. D. Mettinger, The Dethronement of Sabaoth: Studies in the Shem and Kabod Theologies, C. W. K. Gleerup, 1982.

[4] Estes indícios são retirados dos artigos de H. Niehr, «In Search of the Yhwh’s Cult Statue in the First Temple», in K. van der Toorn (ed.), The Image and the Book: Iconic Cults, Aniconism, and the Rise of Book Religion in Israel and the Ancient Near East, Peeters, 1997, pp. 73-96; e de M. Köckert, «Suffering from Formlessness: The Ban on Images in Exilic Times», in B. Becking-D. Human (ed.), Exile and Suffering, Brill, 2008, pp. 33-52.

[5] A arqueologia comprova, efectivamente, que apenas na época persa desaparecem em Yehud todo o tipo de imagens (cf. E. Stern, «Religion in Palestine in the Assyrian and Persian Periods», in B. Becking-M. Korpel [eds.], The Crisis of Israelite Religion,Leiden, 1999, pp. 245-255.

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