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Domingo, 7 de Fevereiro de 2010
Mais um Dia mundial da Paz

 

1.Tudo pode cair na banalidade. Apontar “um dia mundial”, seja do que for, já pouco significa. Pertence à rotina dos calendários. A rotina não poupa as escolhas da Igreja Católica, por mais acertadas que se apresentem. Para muitos católicos portugueses, no entanto, as questões da guerra e da paz, nas décadas de 60 e 70 do século passado, tornaram-se inadiáveis. Ao evocar algumas datas, sei que não toco na maioria das que merecem ser lembradas. Remeto para um excelente esboço dessa história (1).
Paulo VI, na sua mensagem de 8 de Dezembro de 1967, anunciou que, a partir de 1968, o primeiro dia do ano civil seria o Dia da Paz. Era um dos grandes frutos da Pacem in Terris (1963), de João XXIII. Para Portugal, com três frentes de guerra em África, a decisão tornava-se perigosa, pois, em alguns sectores do catolicismo português, havia muita inquietação e alguma efervescência. Em 1965, surgiu o documento A posição de alguns católicos, com 101 assinaturas.No Porto, em 1966, foi criada a cooperativa Confronto. A Pragma, nascida em Lisboa em 1964, no primeiro aniversário da Pacem in Terris, foi encerrada em 1967 pela pide.
2. No dia 1 de Janeiro de 1969, foi distribuído, às portas das igrejas na cidade do Porto, um importante documento intitulado: Porquê o Dia Mundial da Paz? Em Lisboa, na noite de passagem do ano, depois da Missa celebrada pelo Cardeal Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, na igreja de S. Domingos, um grupo de mais de uma centena de jovens e adultos, leigos e padres, permaneceu nessa igreja até cerca das seis horas da manhã numa vigília em que houve cânticos, leituras e comentários que o pároco, com todos os seus esforços, não conseguiu sufocar. Alguns delegados de grupo tinham, no entanto, informado o Patriarca das suas intenções e obtiveram autorização para aí permanecerem. No dia 8 de Janeiro, porém, uma nota da Vigararia Geral do Patriarcado dava uma versão dos factos na qual destacava: “Manifestações como esta que acabam por causar grave prejuízo à causa da Igreja e da verdadeira Paz, pelo clima de confusão, indisciplina e revolta que alimentam, são condenáveis; e é de lamentar que apareçam comprometidos com elas alguns membros do Clero que, por vocação e missão, deveriam ser, não os contestadores da palavra dos seus Bispos, mas os seus leais transmissores”.
O Dia Mundial da Paz passava a significar, para algumas correntes do catolicismo português, não só um apelo, mas um instrumento, entre outros, de contestação pública da guerra colonial, bem expressa num poema cantado de Sophia de Mello Breyner: “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
No último dia desse mesmo ano (1969), foi entregue na Presidência do Conselho um documento, reflectindo várias correntes de opinião – com significativa presença de católicos, leigos e padres – criando a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Isto foi há 40 anos.
Uma das iniciativas mais emblemáticas, levada a cabo contra a ditadura do Estado Novo e a guerra colonial, foi a Vigília da Capela do Rato, realizada de 30 de Dezembro de 1972 a 1 de Janeiro de 1973, que teve apoios em todo o país e com tais repercussões que obrigaram o Presidente do Conselho a intervir em público, reagindo num longo discurso (37 minutos), na rádio e televisão. Os acontecimentos da Capela do Rato penetraram na Assembleia Nacional, provocando uma memorável discussão entre Casal Ribeiro e Miller Guerra.
3. Essas são evocações da memória. Um certo simplismo pós-moderno gosta de dizer que o passado passou, os mortos que enterrem os mortos e cada um aproveite o presente como puder. O tema do Dia Mundial da Paz do próximo dia 1 de Janeiro tenta contrariar esse primarismo: “Se quiseres cultivar a Paz, preserva a Criação”. É certo que já, em 1990, João Paulo II estabelecia uma ligação directa entre a construção da paz e a ecologia. Dir-se-á que este Papa quis aproveitar a boleia da Conferência de Copenhaga para fazer valer a concepção bíblica do mundo. Não era o Papa que precisava dessa boleia, pelo contrário, era a Conferência que precisava de todos os contributos que não teve. O Romano Pontífice empenhou-se no seu êxito.
O relativo fracasso da Conferência resulta de muitos factores, mas também de uma questão de fundo que atinge, além da fractura entre os muito ricos e os muito pobres, as pessoas, os grupos, as nações, a humanidade no seu conjunto. Vem de uma cegueira causada pela falsa luz dos apetites do presente: a dificuldade em deferir o prazer e os interesses actuais, para poder garantir o futuro das novas gerações. Diz-se que só temos uma vida para viver, a morte é sem retorno e, mais tarde ou mais cedo, todos morrerão. Quem tem sorte, tem sorte; quem não tem, não tem. Não nos peçam a nós mais esmolas para o futuro da humanidade.
O niilismo, como diz Viriato Soromenho Marques, tornou-se ontológico. Invadiu a nossa relação com o dinheiro e corrompeu a nossa esperança na continuidade das condições biofísicas e ecológicas que permitem, desde há milhares de anos, o drama de sombras e brilho da civilização humana.
O niilismo, porém, só vence quem deixa cair os braços diante dos fracassos. Bom Ano!
Cf. João Miguel Almeida, A Oposição Católica ao Estado Novo (1958-1974), Edições Nelson de Matos, Lisboa, 2008.
Frei Bento Domingues, o.p. Fonte: PÚBLICO, 2009. 12. 27

 

 

 

publicado por Re-ligare às 12:15
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