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A consideração do uso do Nome divino nos livros que constituem o Pentateuco (Génesis-Deuteronómio) está na origem da chamada «hipótese documentária», que atribui a formação do Pentateuco à colação de tipo redactorial de quatro documentos: um documento Javista (J), um outro, Eloísta (E), um terceiro, Sacerdotal (P de Priest, em alemão) e, finalmente, o documento Deuteronomista (D)[1]. Efectivamente, os dois primeiros documentos aludem ao uso do Nome divino pelo autor sagrado: Javista, porque utiliza sobretudo o tetragrama Yhwh (na origem do nome Javé); Eloísta, por utilizar o nome Elohim (Deus). No entanto, recentemente, essa atribuição coloca cada vez mais problemas, tendo mesmo sido abandonada na última edição do Pentateuco da Traduction Œcuménique de la Bible (TOB).
O Nome divino e a «hipótese documentária»
O primeiro a postular a existência de «fontes» distintas no Pentateuco foi o teólogo e pastor alemão Henning B. Witter (1653-1715): ao estudar os dois textos da criação, observou que o autor do primeiro texto (Gn 1,1-2,4a) utiliza o nome Elohim («Deus») e o do segundo (Gn 2,4b-3,22), Yahweh-Elohim (trad. port.: «Senhor Deus»). Porém, foi Jean Astruc (1684-1766), médico de Luís XV, quem primeiro elaborou uma «hipótese documentária», no seu livro Conjectures sur les mémoires originaux dont il paraoit que Moyse s’est servi pour composer le livre de la Genèse (1753), fundada no uso do nome divino: a «Memória A» que usava o nome Elohim e a «Memória B», o nome Yahweh. Johann G. Eichhorn (1752-1827), professor na Universidade de Göttingen, aderiu à hipótese de Astruc e, no seu livro Einleitung in das Alte Testament (Introdução ao Antigo Testamento; 1780-1783), deu um nome a essas fontes: a «Memória A» foi chamada de Eloísta e a «Memória B», Javista.
Em 1798, Karl D. Ilgen (1763-1834) observou que os textos «eloístas» não eram de todo homogéneos, e que haveria de considerar dois documentos distintos: um Eloísta antigo (= E1) e um Eloísta recente (= E2). Porém, o abandono da «hipótese documentária», durante meio século, não permitiu aprofundar essa ideia de Ilgen. Esse estudo seria levado a cabo por Hermann Hupfeld (1786-1866) que, em 1853, demonstrou que o simples uso do nome divino Elohim não bastava para caracterizar os textos eloístas, pois entre E1 e E2 existiam importantes diferenças de vocabulário, estilo e conteúdo. A «nova hipótese documentária», que agora se desenhava, passava a ser composta de quatro documentos: o Eloísta antigo (posteriormente chamado «Sacerdotal» e situado no pós-exílio); o Eloísta recente, em estado fragmentário (porque, dada a proximidade temática com o documento javista, foi preterido em relação a este último); o Javista, um documento paralelo ao Eloísta recente; e o Deuteronomista, «descoberto» em 1805 por De Wette[2].
A partir dos anos 1970, a «hipótese documentaria» foi de novo posta em causa, e precisamente em relação aos «documentos» relacionados com o Nome divino: o Eloísta e o Javista. A existência de um documento eloísta (fragmentário) deixa, simplesmente, de fazer sentido (C. Westermann). Efectivamente, o uso dos nomes divinos Elohim e Yahweh não seria assim tão decisivo para caracterizar os textos bíblicos como pertencendo a um documento ou outro (E. Blum). E, finalmente, os textos ditos «javistas» são tão díspares que, a manter esta caracterização, haveria que conceber também vários documentos javistas (K. Schmid). Deste modo, a distinção que permanece – para além do documento deuteronomista – seria a de «textos sacerdotais» (P) e «textos não sacerdotais» (n-P; D. M. Carr). Mas, se o uso do Nome divino deixa de fazer sentido para caracterizar a existência de «fontes» no Pentateuco, terá alguma outra função na Tora?
O Nome divino como indício de datação dos textos
Nos últimos anos, o exegeta belga Albert de Pury tem sugerido que o primeiro documento do Pentateuco terá sido, provavelmente, o chamado «documento sacerdotal» (= Pg, de «Priest Grundschrift»), acrescido posteriormente com textos «não sacerdotais» antigos (= pré-P), novos textos sacerdotais (= Ps) e de outras correntes do Judaísmo (= pós-P)[3].
Nesse documento sacerdotal primitivo, que J. Wellhausen designava por Quartor (isto é, o «livro das Quatro Alianças»), curiosamente, o(s) autor(es) apresenta(m) uma revelação progressiva de Deus à humanidade: nos textos relativos às origens do mundo, o nome divino utilizado é Elohim (ou seja, «Deus»); posteriormente, nas narrativas patriarcais, Deus apresenta-se como El Shadday (o «Deus Poderoso»; cf. Gn 17,1); enfim, Deus dá-se a conhecer a Moisés e aos filhos de Israel como Yahweh (cf. Ex 6,3), o Deus de Israel e de Judá. Contudo, não se pense que esta perspectiva seja politeísta: não, para o(s) autor(es) sacerdotal(ais) trata-se de uma única divindade – o Deus «criador do céu e da terra» – e estas diversas etapas fazem parte de uma única história, que culmina na revelação de Deus a uma nação particular (os Israelitas).
Assim, com o escrito sacerdotal, encontramo-nos no limiar do uso do Nome divino nos textos que compõem o Pentateuco. Os textos não sacerdotais antigos (pré-P) utilizavam apenas o nome Yahweh, o deus nacional de Israel e de Judá. Porém, isso não quer dizer que provenham todos de uma única fonte ou tenham sido escritos por um mesmo autor (o «Javista» de J. van Seters, de M. Rose ou de C. Levin). Pelo contrário, estes textos provêm de origens diferentes (A. Alt) e constituem o que poderíamos chamar de «tradições» independentes, pré-sacerdotais (na linha de R. Rendtorff e E. Blum).
Depois, durante a época persa, num ambiente cada vez mais universalista (e no confronto com Ahoura-Mazda, a divindade persa), tornou-se problemático defender posturas particularistas ou nacionalistas. Neste ambiente, o uso do nome divino Yahweh, apresentado como um Deus único, transcendente e universal, é cada vez mais qualificado: Yahweh-Elohim, isto é, «Javé, (o) Deus… de Israel/de toda a terra», como encontramos nos livros de Esdras-Nehemias, mas também em Génesis 2-3 (um texto que os exegetas começam a ver como midrash de Gn 1).
E, no final da época persa e início da época helenista, o nome divino Yahweh deixa completamente de ser utilizado, passando a usar-se o nome ha-Elohim («o Deus»), como encontramos em Qohelet ou Jonas, mas também em Gn 20-22; 39-43; e Ex 1,8-22, ou Elyon («o Altíssimo»), como em Ben Sira ou Gn 14.
[1] Na hipótese clássica (de J. Wellhausen), a primeira acção redactorial ter-se-ia dado por altura do reinado de Manassés, unindo os dois primeiros documentos: o Javista (que começou a ser elaborado no séc. IX) e o Eloísta (séc. VIII). Esta redacção era chamada Jeovista (= Rje). No reinado de Josias foi elaborado o Deuteronómio (o livro «descoberto» no Templo de Jerusalém) e, durante o exílio, uma redacção de tipo deuteronomista (= Rd) associa D e JE (acrescentos deuteronomistas em JE e jeovistas em D). Finalmente, no início da época persa é escrito o documento sacerdotal, na origem da última actividade redactorial (= Rp) – entre 450 e 400 a.C. –, que combina P com JED para formar o Pentateuco actual.
[2] A ordem cronológica dos quatro documentos (E1E2JD) foi, entretanto, alterada, devido aos estudos de Karl H. Graf (1815-1869), Abraham Kuenen (1828-1891) e Theodor Nöldeke (1836-1930) acerca do escrito sacerdotal, situando-o no período pós-exílico, e considerando também E2 como posterior a J, que passou a ser o documento mais antigo. É essa ordem (JEDP) que aparece na síntese de J. Wellhausen.
[3] A. de Pury, «Pg as Absolute Beginning», in T. Römer-K. Schmid (eds.), Les Dernières Rédactions du Pentateuque, de L’Hexateuque et de L’Ennéateuque, Lovaina, Peeters, 2007, pp. 99-128.
Porfírio Pinto
Investigador da linha em Ciência das Religiões
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