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Segunda-feira, 6 de Outubro de 2008
SOCIEDADES DO MEDO




1.Há medos e medos. Medo do escuro, medo de casas assombradas, medo de viajar de avião, medo de ser assaltado, medo de falar em público, medo de contrair doenças, medo de mudar, medo de adormecer, medo de acordar, medo de sofrer, medo de viver, medo de morrer. Mais antigos ou mais modernos, são medos paralisantes e a lista poderia ser aumentada. Há, porém, medos que são necessários para evitar perigos e, nesse aspecto, podem ser pedagógicos. Deus nos livre de quem não tem medo de nada!

Encontramo-nos, actualmente, numa situação paradoxal: vivemos numa das sociedades mais seguras e prometedoras da História e mais obcecada com a segurança. Parece que quanto mais seguros estamos, objectivamente, mais inseguros nos encontramos e mais protecção exigimos. Vivemos um tempo de incertezas que nos tornam vulneráveis sob o ponto de vista social, económico e afectivo.

Isto revela-se, especialmente, no campo da saúde que depende de tudo. Somos, diariamente, alertados para os mil cuidados que é preciso ter, tanto acerca daquilo que a favorece como daquilo que a ameaça. Livros e revistas dizem-nos o que devemos comer, o que devemos beber e o que devemos evitar, não esquecendo os exercícios físicos indispensáveis e as atitudes da mente que os devem acompanhar. Nessas propagandas, a ciência, o palpite e a aldrabice moram lado a lado. Há quem diga que servem, sobretudo, para aumentar as listas de espera nos hospitais, nos centros de saúde, nos consultórios médicos, sem eliminar o recurso à bruxa e ao milagre. Agora, avisam-nos que a compra de medicamentos online só deve ser feita em sites certificados, pois a sua falsificação já rende mais do que o tráfico de droga. Para quem dispõe de grandes recursos económicos, há muita oferta requintada para afastar todos os medos sem, para já, evitar a morte.

2. O conhecido cientista Stephen Hawking foi receber, a Santiago de Compostela, o I Prémio Fonseca 2008. Para ele, a ciência dará uma resposta definitiva sobre o começo do universo. As leis, pelas quais a ciência se rege, deixam pouco lugar para Deus e o seu conhecimento substituirá as religiões. Mas, nem por isso, as suas declarações nos deixam mais seguros:
as actividades humanas afectam a tal ponto o sistema climático que será muito difícil, nos próximos cem anos, evitar um desastre no planeta Terra. Para o célebre físico britânico, o futuro da humanidade, a longo prazo, está no espaço. Entretanto, a humanidade poderá decifrar todo o genoma humano e modificar, a partir daí, aspectos como a inteligência, os instintos ou a duração da vida. Por outro lado, logo que apareçam tais superhumanos, haverá problemas políticos graves com os humanos não melhorados que serão incapazes
de competir com eles. Presume-se que ou morrem ou se tornam irrelevantes.

3. Será por falta de superhumanos que estamos mergulhados numa crise global, sem ter quem nos explique os misteriosos ciclos da economia de mercado e a liberdade incondicional dos gestores da especulação financeira?  Mesmo em humanos não melhorados, era de esperar mais sabedoria e um pouco mais de humanidade. É verdade que um conhecido filósofo do “pensamento débil”, Luc Ferry, que não pode acreditar no afundamento do capitalismo, supõe que, quando se fizer um balanço, daqui a alguns anos, provavelmente, ir-se-á verificar que a actual crise poderá ser apenas um ajustamento e que
a maioria das pessoas terá sido largamente beneficiada.
 

Para este género de optimismo darwinista, as vítimas não contam, são o preço a pagar pela liberalização e competição dos mercados. Como todos, por enquanto, têm de morrer, felizes os que chegarem tarde, já com a mesa posta, sem terem sofrido as dificuldades dos antepassados. Se a actual crise pode ser uma bela ocasião para grandes negócios, neste momento, nem todos acreditam que a mão invisível do mercado se lembre dos bolsos vazios dos mais pobres e dos mal-remediados.

Não sabendo, no momento em que escrevo, as medidas que vão ser tomadas para vencer a crise, só vejo estilhaços em todas as direcções, nos cenários apocalípticos das grandes praças financeiras.


Teimo em recordar, apenas, o princípio típico da doutrina social cristã: os bens deste mundo são originariamente destinados a todos. Sublinho a opção histórica de Jesus: o amor preferencial pelos pobres. Como lembrou João Paulo II, hoje, dada a dimensão mundial que a questão social assumiu, este amor preferencial, com as decisões que ele inspira, não pode deixar de abranger as imensas multidões de famintos, de mendigos, sem-abrigo, sem
assistência médica e, sobretudo, sem esperança de um futuro melhor: não se pode deixar de ter em conta a existência destas realidades. Ignorá-las significaria tornar-nos como o «rico avarento», que fingia não conhecer o pobre Lázaro, que jazia ao seu portão (Lc 16, 19-31).

Enquanto houver guetos de pobres e condomínios fechados de ricos, é de ter medo. Para evitar o medo omnipresente, é preciso reorganizar o espaço urbano, público, onde todos se possam encontrar e enriquecer a diversidade cultural. Juntos, não teremos medo.

 
Frei Bento Domingues, o.p. 
(primeiro director da lic. em Ciência das Religiões)
 

artigo publicado no Público deste fim-de-semana.

publicado por Re-ligare às 22:31
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